DIGESTIVOS
Quarta-feira,
18/8/2004
Digestivo
nº 188
Julio
Daio Borges
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Internet
>>> Intune
A internet, no Brasil, parece que está fechando um ciclo. 2004 tem sido, portanto, um ano de reedições, de efemérides, de retrospectivas – todas em torno da “World Wide Web”. Os profissionais da Grande Rede, aparentemente, adquiriram uma certa maturidade, e suas empreitadas – quando não sucumbiram junto com a “bolha” e o “pós-bolha” –, também. Engrossa o coro a “Geek”, revista da editora Digerati, que comemora 6 (seis) anos sob o comando de Alessio Fon Melozo, ontem faz-tudo da publicação, hoje diretor editorial. A mesma “Geek” que estreou anunciando Bill Gates na capa; que distribuiu, pela primeira vez em CD, o Linux; que previu o reinado de Marcelo Tas, como mocinho da era “cyber” (logo na sexta edição); que anteviu a febre do Wi-Fi (nº 23); que matou o MP3 e não o CD (nº 27); e que foi “mãe” de outros tantos títulos dedicados a “hackers”, “crackers” ou meros usuários, infomaníacos e internautas. E a “Geek”, nesta edição comemorativa (de CD duplo), ganhou um banho de loja – desde um projeto gráfico mais arejado até um ar editorial mais científico, rivalizando com as campeãs do setor, como a “Superinteressante”. A “Geek” cresceu, refletindo um desejo da própria Digerati – que vai migrando de uma fábrica de revistas para o fortalecimento de algumas marcas. A “Geek” mantém ainda as seções faça-você-mesmo, como a última que ensina a montar um “notebook”, mas assume também uma responsabilidade educacional (que sempre teve), abordando assuntos como o genoma humano e gente como Alan Turing (John Nash antes de John Nash). Continuam as resenhas bem-humoradas que fizeram história e um certo desleixo charmoso que é a sua marca registrada. A “Geek” não quer mais mudar o mundo, porque, junto com a Digerati, já mudou. E Alessio Fon Melozo pode continuar falando da menina de seus olhos com orgulho – afinal, ela conquistou todo mundo.
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>>> Geek - Digerati
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Artes
>>> Credo criativo
O século XX terminou um pouco cansado da arte explicativa, acompanhada de bula, que se converteu em espetáculos de incompreensão e hermetismos críticos – como a Bienal. Ainda assim, ainda que a tradição pictórica e o comentário a ela associado estejam nesse contexto tão vilipendiados, é fundamental ler sobre o assunto. A chamada “educação do olhar” passa, além do didatismo e da oralidade, pelo texto – e a Editora 34 chegou num bom momento com uma coleção perfeita. Trata-se do compêndio organizado por Jacqueline Lichtenstein, originalmente editado na França, que aqui no Brasil é publicado em pequenos e simpáticos volumes de 100 a 200 páginas. Lichtenstein, professora da Universidade de Paris X – Naterre, reuniu amostras significativas de textos considerados canônicos sobre pintura. É um grande prazer (re)descobrir que, por baixo da crosta de embromação que envolve a crítica de arte atual, existe um tesouro de autores muito pouco lidos e estudados. De obviamente Baudelaire até o insuspeitíssimo Pietro Aretino (missivista incontinente que tenta cair nas graças de Michelangelo); do divino Jacobo “Legenda Aurea” da Varazze até o eternizado pelos séculos dos séculos Franciscus Junius. Há também os chatos, de um detalhismo exacerbado, como Denis Diderot e Émile Zola – mas cujas aparições são breves e não prejudicam o resultado. O gosto está, além do sabor do próprio texto, em passear por milênios de obras-primas, que remontam a Apeles, atravessam Giotto e o renascimento, desembarcando em Paul Klee e Vincent van Gogh. Isto apenas no volume 1. O segundo combina nomes improváveis como São Tomás de Aquino e São Boaventura – e os volumes 3 e 4 já estão saindo do forno. São 14 (catorze) no total. E o século XXI, apesar de ainda atormentado por instalações e videoartistas, não poderá mais reclamar de analfabetismo plástico.
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>>> A pintura - Jacqueline Lichtenstein (org.) - 173 págs. - 34
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Além do Mais
>>> It’s only rock’n’roll but I like it
Nunca se viu o O’Malley’s tão abarrotado. Duas “pickups” reluzentes, estacionadas na porta, já denunciavam. Quando o “riff” de “Pretty Woman” se anunciou, o lugar quase veio abaixo. Os poucos que estavam sentados se levantaram. E os corredores entre as mesas, que antes já andavam congestionados, se tornaram intransitáveis. Os garçons não tinham mais espaço e o famoso copo, por todos tão cobiçado, se espalhava pelos balcões, pelas mãos, pelos apoios que sobravam – praticamente nenhum mais restara. Era o resultado de três meses de Circuito Erdinger & Kiss FM, que arrastou pequenas multidões para mais de uma dezena de bares e casas noturnas, sempre às quartas-feiras, de norte a sul, de leste a oeste de São Paulo. Ao som do mais puro “rock’n’roll”, cinqüentenário, mas que era entoado aos berros, numa emoção que poucos gêneros, em todos os tempos, causaram – e até causarão. O inconsciente coletivo estava impregnado de refrões de Dire Straits, U2, Bealtes, Led Zeppelin, Deep Purple e Ozzy Osbourne. Eram pessoas de todas as idades (o chavão aqui é necessário): desde crianças de colo até diretores de empresa; desde adolescentes em flor até recém-casados; desde paqueradores inveterados até tigresas retesadas. E a equipe Erdinger & Kiss FM esteve incansável: fotografando, posando para a foto, colhendo depoimentos, cadastros, sorteando prêmios, promovendo degustações e arrancando declarações apaixonadas de artistas “cover” – que se derretiam na primeira golada. A cerveja de trigo alemã abalava as estruturas e – depois dessa “turnê” – não se pode dizer que ela esteja restrita a algumas estações de inverno e a alguns “pubs” selecionados. A Erdinger caiu na boca do povo (outro clichê necessário) – e a tendência agora é se consagrar ainda mais. O fecho, talvez para lembrar tempos pretéritos, se daria em Monte Verde – numa edição extraordinária do mesmo Circuito. O embalo continuado hoje não permite uma parada – e São Paulo vai seguir sendo agitada pela Weißbier mais clássica.
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>>> Circuito Erdinger & Kiss FM
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Noites de Autógrafos
* Anúncios Paulistanos - Pedro Yves
(Seg., 16/8, 19hrs., CN)
* Práticas de Cidadania - Jaime Pinsky (org.)
(Ter., 17/8, 18h30, CN)
* Razão Mínima - Luis Paulo Rouanet e Waldomiro José da Silva Filho
(Qua., 18/8, 18h30, CN)
* O Baianolistano - Manoel Teodoro Cavalcanti
(Qui., 19/8, 18h30, CN)
* Marketing Cultural - Ivan Freitas da Costa
(Qui., 19/8, 18h30, VL)
>>> Shows
* Música das Nações - Zélia Chueke
(Seg., 16/8, 20hrs., VL)
* Eddie Condon: Big Jam em New York - Traditional Jazz Band
(Sex., 20/8, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Guzzi Woolley
(Dom., 22/8, 18hrs., VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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15/8/2004
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22h09min
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Hoje li a coluna sobre o Ciberespaço, do Sr. Julio Daio Borges, no qual nos dá em largas passadas o que se passa na iternet, na questão dos Blogs. Antecipo, não faço parte dessa tribo; não consigo expor a carne crua para as moscas-varejeiras. Sou, como diz um "outsider", fora da onda. Sou exatamente aquela figura desenhada no começo desta página, a imagem viva e sem suavidade da solidão. Não pertenço a nenhum grupo, tribo, seja lá o que for; sou o aluno sentado na última carteira e que representa apenas um vegetal para a "galera", de qualquer tribo. A frase "Escrevinhadores..." fala sobre escritores espontâneos, nascidos quase que por brotamento (gostei da metáfora), geralmente não dominan os formatos básicos. Alternam, sem critério, o diários do adolescente com a reflexão pseudofilósica ou filosofia de boteco. Infelizmente, nossos adolescentes querem escrever sem saber ler ou não ter lido coisa alguma, então os disparates como protestos sem fundamentos e dirigidos para todo lado. Ninguém escapa da metralhadora giratoria da burrice institucionalizada, onde os valores estabelecidos pela "tribo" é o valor máximo: obrigar ("aufdrängen") a ser igual. Como disse, ver alguém lendo, por exemplo, Kafka no ponto do ônibus, é motivo para o aprendiz de Azazel, tirar o seu bastão de beisebol do carro e mostrar ao infeliz que ele não é bem-vindo no mundo dos mais "espertos". Claro, tudo acompanhado com "gritinhos" de prazer da está ao seu lado, a sua "piranha" que perdeu há muito sua condição de "femme". Melhor a solidão, bem-vinda, que nos poupa dessa degradação sem fim. Talvez, a saída seja escrever livros recheados de pornografia, sexo explícito, como tem acontecido ultimamente com duas adolescentes que descrevem em mínimos detalhes - segundo jornais - suas obsessões, patologias, taras sexuais, etc., com sucesso. Edições escorrem de mão e mão. Esss são os valores que nos restaram. Me vejo um ser absolutamente despojado de mim mesmo, sem futuro, contando, talvez, com "humano, demasiado humano" que ronda a nossa existência, desde que o mundo o recebeu. "Lançamo-nos ao proibido" (Ovídio). Grato pela oportunidade!
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18/8/2004
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10h08min
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Sou leitor da revista Geek desde os primeiros exemplares. De fato, a revista melhorou muita sua qualidade gráfica nos 2 últimos exemplares.
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[Leia outros Comentários de
Juca]
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