DIGESTIVOS
Quarta-feira,
7/2/2001
Digestivo
nº 19
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> Armazém de secos e molhados
Embora se diga contra as multinacionais, os Estados Unidos e o capital estrangeiro, a esquerda festiva do Fórum de Porto Alegre jogou muito bem o jogo da mídia, e fez uso de esquemas tão rasteiros quanto os do establishment que, pretensamente, condena. Como uma criança pirracenta, que disputa a atenção dos pais ausentes, a esquerda festiva esperneou, berrou e se descabelou via satélite. É de se lastimar que, depois de todas as aulas que a diplomacia nos lega, alguém ainda acredite que pode resolver os problemas da fome, do desemprego e da pobreza por meio de frases feitas, insultos ao vivo, e depredação da propriedade alheia. Só um tolo, ou um cínico, pregaria a algazarra (em vez do diálogo aberto), o simbolismo obscurantista (em vez da compreensão plena), a imposição pela anarquia (em vez da representação política legítima).
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>>> IstoÉ
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Internet
>>> It's being done. I have no doubt
Especialistas confirmam: já tem gente clonando gente. Passada a onda de espanto e de horror moral para com a possibilidade do clone humano, cientistas garantem que a técnica de duplicar pessoas tem grandes chances de cair no gosto popular, e de virar moda. Nos Estados Unidos, famílias, cujos entes foram vitimados pela tragédia, oferecem centenas de milhares de dólares para profissionais inescrupulosos que têm meios para fabricar dollys humanas, no quintal de sua casa. Como controlar iniciativas como essas, se em países como o Brasil não existem leis que prevejam (ou coíbam) a clonagem? As implicações psicológicas, de uma onda de duplicadas de homens e mulheres, não têm precedentes na História. Imagine você sendo pai do seu pai, sendo mãe da sua mãe? Imagine você sendo filho do seu filho, sendo neto do seu neto? Imagine você sendo pai, irmão, tio, avô, sobrinho, neto, filho, de você mesmo?
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>>> http://www.humancloning.org/
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Teatro
>>> Mas eu não estou louca!
Kelly di Bertolli está nua em pêlo, na montagem da Valsa Nº 6, de Nélson Rodrigues. A peça tem direção de Sérgio Audi e está em cartaz no TUSP, na rua Maria Antonia. Em geral, os monólogos requerem muita versatilidade do ator, que tem de desdobrar-se em memórias, sonhos, imaginações. Kelly mostra-se bastante afinada com Sônia, a protagonista, ao viver seu pai, sua mãe, seu médico, seu amor. Usa o corpo como um recurso poderoso, uma vez que pretende desvelar também a alma, suas luzes e suas trevas. E o corpo é sempre crucial em Nélson Rodrigues: é ele quem sofre ou provoca as ações mais devastadoras no drama. Embora a mente se creia no comando, é do corpo que emanam as motivações, os desejos, as fomes. O corpo é nossa primeira e nossa última fronteira. Somos senhores e escravos dele. Até a morte (que, para Nélson Rodrigues, aliás, tinha um sentido revelador).
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>>> TUSP - R. Maria Antonia, 294 - Tel.: 259-8342
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Gastronomia
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
O Santa Pizza fica na rua Harmonia, na Vila Madalena. A fachada discreta esconde um labirinto de corredores, curvas e cantos carregados de quinquilharias que produzem um efeito aconchegante. Não é aconselhável, porém, acomodar-se próximo ao forno, dadas as paredes de tijolo aparente e os calores que ultimamente assolam, no verão de São Paulo. A pizza propriamente dita é fina como uma hóstia e provoca saudosismo naqueles que apreciam uma massa mais encorpada. Não existe grande criatividade nos sabores, o que não chega a comprometer a degustação das clássicas mozarela, calabreza, aliche e portuguesa (ainda que elas estejam disfarçadas sob nomes mais sofisticados). A vantagem talvez esteja no fato do Santa Pizza se localizar na Vila Madalena, um dos poucos bairros ainda com cara de bairro, sem avenidas que cruzam pra lá e pra cá, sem a pressa da capital paulistana, sem o mar de prédios, sem aquele ar impessoal dos grandes centros.
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>>> Santa Pizza - Rua Harmonia, 117 - Tel.: 3816-7848
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Música
>>> Meu sonho é chegar à perfeição de uma Ciranda Cirandinha
Tantos os artistas elaborados que correram em busca do simples. O simples que se reflete e que se perde no mundo. Dorival Caymmi não fugiu à regra: foi um dos maiores exemplos da eterna batalha pelo que é essencial. A caixa Caymmi Amor e Mar faz-se, portanto, item fundamental, em qualquer discoteca de música brasileira que se preze. Afinal, o compositor baniu, definitivamente, o excessivo, o alegórico, o acessório. Caymmi compôs pouco, e cada vez mais devagar. Também pudera: para alguém cujo primeiro sucesso, no Brasil e no mundo, foi "O que é que a baiana tem?", na voz de Carmem Miranda, no cinema (hollywoodiano), ainda por cima desancando Ari Barroso - o que é que alguém assim pode aspirar, além do que é essencial?
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>>> http://www.caymmi.com/
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>>> DIGA O SEU NOME E A CIDADE DE ONDE ESTÁ FALANDO
Xuxa, a embaixadora do Rock in Rio III, quando lhe perguntaram se tocava algum instrumento: "Não toco nem canto, só vendo discos".
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Julio Daio Borges
Editor
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