DIGESTIVOS
Quarta-feira,
20/10/2004
Digestivo
nº 197
Julio
Daio Borges
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+ 3 Comentário(s)
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Televisão
>>> Feliz aniversário, envelheço na cidade
Se o VMB é a maior premiação (ou festa) da música brasileira, – como diria Caetano, em outras épocas – estamos feitos. Se havia alguma espectativa por conta dos 10 anos do Video Music Brasil, ela foi completamente frustrada. O material de arquivo da Music Television tupiniquim foi acessado apenas na base da catalogação de gafes, no estilo Vídeo Show. E a promessa de antigos VJs, que compareceriam para reforçar a apresentação, não foi igualmente cumprida. Parece que o canal ignorou o fato de que havia uma história pré-Cazé e pré-Marcos Mion. Onde estavam, por exemplo, Gastão, Cuca e Astrid? Tudo bem que a última regrediu muito desde então, e que a segunda praticamente abandonou o showbiz, sobrando apenas o primeiro (num esforço para [re]erguer o MusiKaos – ainda existe?). Enfim, a emissora já não é o que era há muito tempo – e as esperanças já estavam mortas mesmo antes do VMB 2004. Mas e a música? A música brasileira “oficial” vive um de seus piores momentos: a todo instante, era clara a tentativa de elevar a auto-estima dos “músicos” desse universo pop rock brasileiro. E reuniu-se uma constelação de falsas e verdadeiras celebridades. Era uma mistura de Marisa Monte com Sandy & Júnior, José Serra (sim, o candidato) com João Gordo, Maria Rita com Preta Gil – e por aí vai. A quem ainda tinha (ou tem) alguma valor, cabia perguntar: “Por que você se mistura com esse povo?” Soou como imposição das majors (e das minors) que não vêem outra solução se não jogar todo mundo dentro do mesmo caldeirão. E se o tom geral era retrô (vamos “relembrar” esses 10 anos...), o resultado não poderia ser mais conservador. As grandes atrações musicais eram covers, ou, mais grave, artistas interpretando a si próprios (depois, é claro, da degradação). O mais triste é que a renovação da música brasileira (de verdade) vem acontecendo há anos – mas, certamente, ela não passa mais pelo palco do VMB. A impressão é de que as grandes vitrines do main stage vão ruindo uma a uma, e que quem fazia parte do “sistemão” vai afundando junto com o Titanic simbólico das antigas gravadoras. Não há bote salva-vidas para as cabeças envelhecidas, apenas para as novas – que já nascem sabendo nadar.
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>>> VMB 2004
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Internet
>>> Diarius ininterruptus
Apoiado no entusiasmo de Paulo Markun, Mario Prata, prefaciando “O meu Pipi” (Ediouro), afirma que o futuro da literatura está nos blogs. Ele – que não entende muito de literatura, muito menos de internet, talvez um pouco de televisão – deu um belo de um chute, mas canhestramente pode ter razão. Na verdade, os blogs não estão “formando” escritores, mas na falta de um espaço para expor seus trabalhos em público, os últimos estão fazendo a fama dos primeiros, indevidamente. Ou seja: o blog como ferramenta é algo à beira da indigência, mas estamos vivendo uma época tal, de inversão de valores (principalmente artísticos), que os escritores (até mesmo os de verdade) estão apelando para a “blogosfera” para poder publicar. Aí aparece alguém como esse “Pipi”, cujo livro, uma reunião de posts, nos chega de Portugal com “tradução” de Prata. O tema é apelativo até não poder mais: o sujeito se diz especializado em “conas” (é preciso traduzir ou o sentido vocês conseguem pegar?) e desfila uma série de peripécias ao longo dos meses enquanto durou o blog. É um reality show sexual – e por escrito. São camareiras, estudantes do segundo grau, universitárias, mulheres casadas – todas passam pelo seu controle de qualidade, e Pipi faz a “crítica” da performance. É lógico que a maioria das histórias foi inventada e, mesmo que houvesse um fundo de verdade, não é aí que reside a graça. O que impressiona, na sua coletânea de barbaridades, é o fato do Pipi escrever bem demais – e ter de usar um expediente tão baixo para chamar a atenção (primeiro, o blog; depois, a temática; por último, o pseudônimo). Como vendeu 40 mil exemplares na terra de Camões, levantam-se suspeitas sobre sua identidade. Evidente que é escritor, ou jornalista, ou similar. Inclusive parodia Saramago e Lobo Antunes, habilmente, em algumas passagens. Não se consegue prever o seu “sucesso” no Brasil, é claro. Comparando com o blog na internet (ainda está no ar), longos trechos acabam lost in translation. Como verter, por exemplo, “zé tolas” (esse vocês sabem)? Não vai ser, tampouco, nossa “leitura de verão”. Mas fica como mais uma prova de que a literatura atual (seja de qual nível for) clama por urgente renovação.
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>>> O meu Pipi - Pipi - 212 págs. - Ediouro
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Música
>>> The more you ignore me, the closer I get
Há muito tempo que o mundo não dava atenção a Morrissey. Há muito tempo, também, que ele não emplacava uma declaração polêmica ou, mais prosaicamente, um hit. Com You Are The Quarry, na velocidade da publicidade, as provocações estão todas nos títulos: “America is not the world”; “I have forgiven Jesus”; “I’m not sorry”; “The world is full of crashing bores” etc. Como uma seqüência assim, a espera é por um álbum, no mínimo, bombástico. Mas não é o que acontece. A elaboração, sobretudo verbal, de um Vauxhall and I (1994) e mesmo de um Maladjusted (1997; considerado verborrágico) fica aqui em segundo plano. Claro que entre um verso da nova geração e um do quilate de “Let me kiss you”, por exemplo, ficamos com o último: “So, close your eyes/ And think of someone you physically admire”. (A geração Acústico MTV seria incapaz desse “physically admire”.) Na parte instrumental, também: a preferência é por batidas conhecidas e pela quase ausência de invenção. Nem sombra de Johnny Marr (sim, o fantasma ainda ronda). Em que pese a introdução de “Irish blood, english heart” (aliás, uma bela sacada política), a guitarra anda apagada, servindo apenas de base para acompanhamento. Bolando uma teoria da conspiração: é como se Morrissey se visse obrigado, pelo que restou das majors, a descarregar todo o seu witty de uma vez, num formato despojado e econômico – principalmente em termos de banda. Afinal, Morrissey, por mais que tenha posado de alternativo nos anos 90, é um dos últimos príncipes do pop. E do jeito que as gravadoras estão desorientadas, de repente pareceu um bom negócio ressuscitá-lo – como astro. Incluindo, até, verbas para marketing, entrevistas e capas de revista. O que dificulta bastante a crença nas idiossincrasias do ex-líder dos Smiths (não seria tudo uma lucrativa jogada para angariar novos e resgatar velhos fãs?). Na dúvida, a abertura de “I’m not sorry”, com uma pinta de “em busca do talento perdido”, surge como uma esperança para o futuro (ou não): “On returning/ I can’t believe this world is still turning/ The pressure’s on/ Because the pleasure hasn’t gone...”.
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>>> Morrissey
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>>> O CONSELHEIRO TAMBÉM PUBLICA N'O GLOBO
A convite de Manya Millen (via Pedro Maciel), editora do caderno "Prosa&Verso" do jornal O Globo, o Editor do Digestivo Cultural destilou sua verve sobre os famigerados... blogs! Foi no sábado, dia 9 de outubro, sob o título "Dos diários íntimos aos blogs" (confira na internet).
>>> ENQUANTO ISSO, NA FOLHA DE S. PAULO...
O Digestivo Cultural foi indicado como referência em matéria de "literatura nacional" na internet. Junto com outros sites, para a Folha, o Digestivo "é um prato cheio para fãs ou vestibulandos que precisam estudar (...) as obras obrigatórias das listas dos exames". Foi na quarta-feira, dia 14, sob o título "Mundo digital acolhe literatura do Brasil".
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Cafés Filosóficos
* Os árabes antes de Maomé - Alberto Mussa
(Ter., 19/10, 19h30, CN)
* Monogamia e fidelidade - Flávio Gikovate
(Qui., 21/10, 19h30, CN)
>>> Noites de Autógrafos
* A ignorância custa um mundo: O valor da educação no desenvolvimento do Brasil - Gustavo Ioschpe
(Seg., 18/10, 18h30, CN)
* O Sapo e o Príncipe - Paulo Markun
(Ter., 19/10, 18h30, VL)
* Dez conversas: Diálogos com poetas contemporâneos - Fabrício Marques (Qua., 20/10, 18h30, CN)
* Poemas Espararadrápicos - Doutores da Alegria
(Sáb., 23/10, 16hrs., VL)
>>> Shows
* Musica das Nações - Antonio Vaz Lemes (pianista)
(Seg., 18/10, 20hrs., VL)
* Hello, Dolly! - Traditional Jazz Band
(Sex., 22/10, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Cássia Machado
(Dom., 24/10, 18hrs., VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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23/10/2004
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17h21min
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Uma vez assisti a palestra do autor Nelson de Oliveira, e ele fazia essa mesma afirmativa de que, talvez, o futuro da literatura estivesse na WEB...
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25/10/2004
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10h23min
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Francamente, se vmb fosse realmente palco da música brasileira, nao seria esse show cançoes comerciais, limitando a extensa lista de talentosos artistas que existem Brasil a fora. Para variar, são aqueles mesmos Globo-alizados. E assim entopem a maioria dos meios de comunicaçao com toda essa "musica", ainda tem alguns que vendem "atitude", seria comico se nao fosse tragico, pois toda essa problematica que acaba por guiar as idéias que estarao em pauta, e continuar influenciando a sociedade de acordo com interesses economicos egoístas. Mas enfim, o mundo é muito antigo, e como as coisas vao indo nao parecem mudar. os governantes abrem mao da educaçao (sinonimo de um Futuro) para promover e preservar nossa dependencia (foi de portugal - inglaterra- e agora eua). A sociedade civil, que poderia ser atuante numa engrenagem consciente, nao de conflitos ingenuose ignorantes, na experença de mudança, mas crescendo no campo intelectual e construindo uma naçao brasileira. ver uma das mais fortes expressoes da nossa cultura imersa nisso tudo é como estar lendo -america é dos americanos (q sao eles lá de cima e nós os cucarachas).
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[Leia outros Comentários de
beatriz]
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14/6/2006
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22h37min
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Penso que o VMB decepcionou como a MTV: emissora que, em seu inicio, trazia uma proposta de uma TV diferete, moderna e com uma linguagem jovem, caiu na mesmice das outras, entrou de vez no mercado e não passa de mais uma de emissora que vende de tudo. O VMB foi para o mesmo caminho, a ideia inicial era bem interessante, e simples: uma premiação da musica brasileira no qual o telespectador tinha voz de decisão. Mas o que vemos hoje é uma clara venda de artistas, o jabá rola solto! Vence quem as gravadores querem. O que resta de interessante nas apresentações é a performace do convidado "mestre de cerimionias", o ultimo deles, selton melo.
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