DIGESTIVOS
Sexta-feira,
14/4/2006
Digestivo
nº 274
Julio
Daio Borges
+ de 4300 Acessos
+ 5 Comentário(s)
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Música
>>> O Bêbado e o Equilibrista
É praticamente impossível ouvir, mesmo hoje, o Falso Brilhante, de Elis Regina, sem se questionar como aquilo aconteceu. Um momento cósmico, com todas as implicações esotéricas embutidas. (Ative, por um instante, please, o botão Suspension of Disbelief...) Elis tinha menos de trinta anos; a idade de Maria Rita. E tinha, além de todas as outras coisas – dela e das pessoas com ela –, uma dupla promissora de compositores: João Bosco e Aldir Blanc. Bosco – fast forward agora –, embora continue um bom músico, é constantemente associado ao seu jeito bem característico de cantar repetindo os fonemas. E, ultimamente, de importante, tem lançado o filho, igualmente compositor. Já Blanc parece que não escolheu o bright side of life. (Sem ofensa aqui.) Inclusive rompeu com João Bosco. Teve um disco, cheio de homenagens ilustres, por conta de seus 50 anos – e, de certa forma, vem sendo redescoberto e regravado. A exemplo, talvez, de Guinga (que se asilou na profissão de dentista – antes do advento da gravadora Velas, uma pré-Biscoito Fino, que, segundo consta, tinha, entre outras missões, ressuscitar seu violão.) Se João Bosco não saiu de circulação e manteve o sorriso altivo, Aldir Blanc aparentemente encarou o lado sombrio da existência (repetindo...). E se Bosco e Blanc, por suas trajetórias, pareciam irreconciliáveis, um dos grandes acontecimentos da MPB, desde o ano passado, é o CD Vida Noturna, de Aldir Blanc, pela Lua Music, onde toca João Bosco. E Guinga. E Hélio Delmiro (a guitarra jazzy de Elis&Tom). Entre outros. Não é easy listening, como adverte Heloísa Seixas no encarte. "É puro Aldir Blanc, sem gelo." O que faria Elis Regina com um repertório assim? Cabe a Mauro Dias mostrar à filha. Ou o Zuza. Ou o Nelsinho...
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>>> Vida Noturna - Aldir Blanc - Lua Music
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Imprensa
>>> O túmulo do fanatismo
Voltaire (1694-1778) acaba sendo lembrado mais como polígrafo. Escreveu feito um condenado, e muitos contemporâneos seus atribuíam sua produção a um verdadeiro exército de escribas. Só de cartas foram mais de dezessete mil e, além de ser um feito inigualável antes e depois, poucos mortais enfrentaram toda essa produção epistolar. Voltaire não parava (a pena) para pensar e desovava uma obra atrás da outra. Sua vantagem era discutir filosofia, de uma maneira incrivelmente acessível, e, no momento seguinte, embarcar em querelas, ao abordar, através da imprensa, questões públicas. Misturava tudo com poemas e peças de teatro; talvez o Cândido seja sua obra-prima mais conhecida. A interlocução que manteve junto ao povo francês, e com a Europa de sua época, deve, naturalmente, tê-lo inspirado a escrever tanto e tão rápido. Foi, antes de qualquer coisa, um fenômeno. E, como em toda produção vasta e multifacetada, o grande Voltaire – que combateu a Igreja, preparando o caminho para Nietzsche – debruçou-se, também, sobre temas prosaicos como... o jornalismo(!). E, dentro do projeto Voltaire Vive, sob coordenação de Acrísio Tôrres, a editora Martins Fontes acaba de lançar o curioso Conselhos a um jornalista. Não é uma obra-prima, mas é um volume interessantíssimo para entender como se praticava o jornalismo da época e como Voltaire o via. Certamente, muito diferente de hoje. A erudição de Voltaire não deixa um parágrafo sem uma citação e a percepção histórica que ele exigia de um “jornalista”, atualmente, parece inatingível. Sua familiaridade com a antiguidade clássica é exasperante, porque, no século XXI, não se conhece direto nem mesmo a história do século passado. E suas peças sobre literatura são, para os resenhistas de hoje, uma tremenda humilhação. Voltaire é um desses gigantes que inviabilizam qualquer comparação. Legível, mais de três séculos depois. Que prossiga a coleção.
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>>> Conselhos a um jornalista - Voltaire - 169 págs. - Martins Fontes
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Além do Mais
>>> A lei e o mando
Luiz Felipe D’Avila ainda é muito conhecido como o fundador da editora que leva seu nome, e que lançou duas revistas importantes no final dos anos 90, Bravo! e República. A primeira caminha para seu nono ano, sob a gestão agora da editora Abril – onde Luiz Felipe D’Avila é diretor do segmento Jovem&Cultura –, e a segunda foi, inicialmente, adquirida pelos irmãos Mendonça de Barros, mudou de nome para Primeira Leitura e, desde o ano passado, é 100% capitaneada por Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira. Reza a lenda que Luiz Felipe D’Avila tinha, na verdade, ambições políticas e as publicações seriam, portanto, uma forma de inseri-lo no cenário nacional, como jornalista. Jornalistas às vezes viram políticos. Vide – para não falar, de novo, de Carlos Lacerda etc. –, mais recentemente, Antônio Britto e Hélio Costa. Logo, um curso de Luiz Felipe D’Avila, na Casa do Saber – onde é um dos sócios –, não poderia deixar de despertar interesse, ainda mais sobre um tema que lhe é tão caro – a política. Desde o final de março, D’Avila discorre sobre o que chama de “Virtuosos” (título de seu último livro, pela editora Girafa), os homens que lançaram as bases para que o Brasil efetivamente se tornasse uma república. O momento histórico, da virada do século XIX para o XX, é rico e D’Avila intercala suas falas com trechos do respectivo livro, que tem ritmo de romance policial, algumas opiniões e muitos fatos. Luiz Felipe é bastante articulado, com bom domínio sobre o assunto, mas não resiste em abordar o atual momento político, com foco na sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Sua teoria sobre a virtude é um pouco questionável, mas é instigante pensar que Geraldo Alckmin pode, de repente, ser o modelo de “virtuoso” hoje... Muitas emoções nos aguardam, porque o curso ainda não terminou; e porque a campanha, para as eleições, ainda mal começou.
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>>> Os Virtuosos - Luiz Felipe D’Avila - Casa do Saber
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Palestras
* Grid: o sucessor da internet - Sérgio F. Novaes e Eduardo de M. Gregores, do Instituto de Física Teórica - UNESP
(Ter., 18/04, 19h30, CN)
>>> Noites de Autógrafos
* Formação de Comissários de Vôo - Roseli Moreira Sousa e Silva (Org.)
(Ter., 18/04, 18h30, CN)
* Responsabilidade Social e Governança
Claudio Pinheiro Machado Filho
(Ter., 18/04, 18h30, VL)
* Fábulas de Esopo para executivos - Alexandre Rangel
(Qua., 19/04, 18h30, CN)
* Espaços Promocionais: Fernando Brandão - Fernando Serapião
(Qua., 19/04, 19h00, VL)
>>> Shows
* Concerto - Trio Retrato Brasileiro
(Seg., 17/04, 20h00, VL)
* Traditional Jazz Band – 40 anos - Traditional Jazz Band
(Sex., 21/04, 20h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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6/4/2006
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17h23min
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É isso aí, Pepê!!! Gostei do que você escreveu sobre o DC e seu editor. Realmente, é muito bom poder acompanhar os avanços tecnológicos através do Digestivo. Estou sempre ligado nos assuntos culturais abordados pelos colunistas. Valeu, Julio, mais vale um DC no computador do que um cibernalta voando!!!
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7/4/2006
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13h42min
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Julio, acompanho seu site, gosto! Mas... sinto que nunca tenha me respondido, apesar de minha compreensão em relação ao seu tempo p/nos proporcionar leituras de tão bom gosto assim! Quero que vc continue cada vez mais me fazendo aprender contigo e fazendo muito sucesso. Meu senso diz que vc merece! bjs
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Míriam]
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11/4/2006
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13h26min
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Porque, como disse Tutty Vasquez, na Nominimo, o debate entre caseiro e acupunturista pode decidir a sucessão presidencial.
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14/4/2006
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20h06min
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Gostei de saber do lançamento do CD do nosso grande compositor Aldir Blanc. Acho até que Aldir merecia muito mais, pela sua importância para tantas vozes. Claro que a harmonia com João Bosco é uma história á parte. Sou fã do Aldir e tenho dito!
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17/4/2006
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16h45min
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Ótima definição para Voltaire, um nome sempre citado e quase sem identidade definida. Parabéns pelas palavras, Julio.
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Tais]
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