DIGESTIVOS
Sexta-feira,
23/3/2007
Digestivo
nº 321
Julio
Daio Borges
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Cinema
>>> Dentes guardados reloaded
Dividindo a atenção com a entrega do Prêmio Jairo Ferreira, e com a crítica independente de cinema em peso, Cão sem dono, o novo filme de Beto Brant (co-dirigido por Renato Ciasca), com roteiro de Marçal Aquino, baseado no livro Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera (relançado agora, pela Companhia das Letras), teve sua pré-estréia em São Paulo, na segunda semana de março. Numa noite em que conviveram, civilizadamente, o mainstream e a internet, a Geração 90 e a 00, os Anos de Chumbo e os anos 2000, ficou no ar a certeza de que muitas daquelas “utopias” voltaram, só que, graças à WWW, em forma de realização. Enquanto Luiz Carlos Merten e Ubiratan Brasil, do Estadão, silenciavam diante da cobrança por uma crítica (que não houve) à nova edição em DVD de Terra em Transe, Inácio Araújo incensava corajosamente, na Folha, “o melhor momento da crítica de cinema nos últimos dez anos”: a revista virtual Contracampo (e suas derivações, em forma de outros sites e blogs). Na tela, o diretor de um dos longas mais marcantes da Retomada, ao lado do roteirista que desbancou nomes como Rubem Fonseca, tomando por base a obra de um dos autores (e editores e blogueiros) mais emblemáticos da novíssima geração. Os anos 60 e 70 emanavam sua aura eternamente mítica, no curta O Guru e os Guris (1973), do mesmo Ferreira, mas era o protagonista de Cão sem dono que falava à platéia, ao presente e ao que será o cinema, a literatura e a cultura do Brasil. A aposta de Brant em Galera, com o suporte de Aquino, é um divisor de águas. Quem se colocar “contra”, estará preso ao passado perdido. A estética nua e crua de Brant, o urro marginal de Aquino e a voz da internet, e da editora Livros do Mal, de Galera, neste encontro, produziram ressonância e revelaram o caldo grosso de uma cultura que está apenas começando. De um lado, as estruturas podres do mainstream, que está desabando; do outro, um vulcão que cospe a lava do novo. É tempo de fazer a opção.
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>>> Cão sem dono (trailer)
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Internet
>>> Outrolado
Depois do boom de 2005, e do reflexo disso, no Brasil em 2006, os podcasts começaram renascer, mais estruturados, em 2007. É o caso do Podcrer, uma iniciativa do Webinsider, reunindo seu editor, Vicente Tardin (pronuncia-se, agora sabemos, “Tarden”, com “e”), e do primeiro homem da agência 10’Minutos, e personalidade da internet brasuca, Michel Lent Schwartzman. O Podcrer tem, naturalmente, um sotaque carioca, embora Vicente às vezes participe de Brasília e Michel, até agora, só de São Paulo. O assunto é, obviamente, tecnologia, propaganda e – por que não dizer? – o novo boom de iniciativas na Web no mundo todo. Uma vez por semana, os dois se reúnem, estejam onde estiverem, via Skype e gravam comentários sobre os assuntos mais quentes. Entre as pautas, já se discutiu no Podcrer desde a crise da mídia contemporânea até o spam que invadiu o espaço para mensagens dos leitores. Lá vale muito a atualidade, são excelentes as dicas e bastante divertidos, ainda, os palpites. No ritmo hebdomadário, muita coisa é abordada quase que de improviso, correndo os riscos inerentes mas fazendo do podcast uma presença constante e um fonte única. Quase sempre, Michel fala 75% do tempo, enquanto que Vicente pondera e tenta seguir a lista de tópicos nos outros 25%. Até hoje, tem sido uma boa combinação: um inquieto e o outro judicioso. No terceiro episódio, anunciaram um “convidado”, que pode trazer surpresas à dinâmica do programa. Aguardemos. Na atual maré de podcasts sobre tecnologia e internet, o Podcrer se destaca porque reúne o editor do provavelmente mais importante site colaborativo sobre o tema e o dono da agência de propaganda mais atuante no segmento. Para quem não tem tempo de ler todo o Webinsider e nem todo o ViuIsso?, é uma alternativa e tanto.
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>>> Podcrer
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Televisão
>>> A seguir cenas dos próximos capítulos
Jornalistas caminham cabisbaixos pelas redações como animais ameaçados de extinção. Enxovalhados por todos, desde seus empregadores até internautas de plantão, desde a opinião pública até a ranhetice dos media watchers, os jornalistas nunca estiveram tão por baixo quanto hoje. Veteranos aconselham calouros a mudar, enquanto é tempo, de profissão; a imprensa-impressa luta contra suas variantes gratuitas (e contra o tsunami de repórteres-cidadãos); grupos de mídia, nesse cenário, ou “travam” ou colocam todas as suas fichas em iniciativas de resultado nulo. A escolha se dá entre salários anualmente achatados, combinados a jornadas sobre-humanas, e desemprego, temperado com um sem-número de bicos que, se somados, não produzem uma remuneração digna desse nome. Em termos de consciência, como zumbis do noticiário, jornalistas vendem, diariamente, sua assinatura, seus escrúpulos e sua reputação. Não respondem, claro, por aquilo que leva seu nome, nem teriam como, tamanha a quantidade de intervenções, sugestões, imposições. A alma do jornalista contemporâneo é a de um bicho de estimação abandonado na rua; de uma biruta, que aponta para onde o vento soprar; ou de um termômetro quebrado, de onde vaza todo o mercúrio e cujos cacos cortam a mão. É neste tempo de desolação que uma atriz, encarando uma jornalista na televisão, tenta devolver um pouco do respeito perdido. E como se até a representação do jornalista estivesse impossibilitada, a própria atriz, antes da encenação ir ao ar, sofre sabotagens constantes. A novela da legitimidade de sua atuação já começou, enquanto que os capítulos da história que ela protagoniza não viram ainda a luz do dia. Não é nem pelo amor dela ao jornalismo: é mais pelo desejo de transmitir um legado artístico a seu filho, que igualmente anseia trabalhar na televisão. O jornalismo como o conhecemos talvez esteja incuravelmente ferido, mas e a atriz... tem salvação?
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>>> Sonia Lima fará jornalista em novela da Record
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Julio Daio Borges
Editor
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necessariamente a opinião do site
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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25/3/2007
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11h50min
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É o mundo digital fazendo suas vítimas no mundo analógico. E não tem jeito: o Darwinismo chegou com força no ecossistema da tecnologia. O grande predador foi responsável pela extinção de várias espécias, entre elas a máquina de datilografia (e suas idústrias e profissões a ela ligadas) e a figura do relojoeiro. E está direcionando suas garras para a tautológica "imprensa-impressa" e para o sistema de telefonia fixa. Como os milhões de dispendiosos feixes de cabos podem concorrer com as ondas e os satélites? Como os jornalistas profissionais viverão com pouquíssimos leitores e como suplantarão seus concorrentes amadores da internet? Texto muito bom o seu!
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26/3/2007
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19h23min
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Sempre acreditei que somos nós, jornalistas, que escolhemos o próprio caminho. Sei que nem sempre é fácil encontrar "um lugar ao sol". Mas com talento e determinação dá pra chegar lá. O problema é que muitos querem chegar rápido demais ao topo. Aí que está o problema. Quem tudo quer...
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