DIGESTIVOS
Sexta-feira,
28/8/2009
Digestivo
nº 430
Julio
Daio Borges
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Internet
>>> O que significa a Apple maior que o Google
Desde que a Microsoft derrotou a IBM, nas últimas décadas, aprendemos que software é mais negócio do que hardware; que o mundo físico vai se digitalizando; e que a era do conhecimento suplantou a era industrial. Nesse cenário, mesmo com a Microsoft não sendo mais a mesma (nem a IBM), fazia todo o sentido que o Google assumisse a liderança nos anos 2000 — afinal, nascera na internet, seu negócio não tinha ligação com hardware e, teoricamente, poderia crescer além das fronteiras conhecidas. De repente, contudo, um sujeito chamado Steve Jobs sai do esquecimento da indústria de computadores, reassume a empresa que fundou, revoluciona o consumo de música, e a telefonia, e... acaba por ultrapassar o Google — com hardware —, na bolsa de valores. Quer dizer então que os CDs podem voltar, os jornais podem não acabar e os livros de papel não estão ameaçados? Talvez; se você for Steve Jobs... A Business Week foi quem, mais habilmente, explicou por que o Google não é mais aquele e por que a Apple tem mais futuro (mesmo "além de Jobs"). O Google já tem 70% do mercado de buscas — seu core business —, a tendência, portanto, é manter ou diminuir suas receitas (se não conseguir descobrir outros negócios tão lucrativos quanto o original). Já a Apple tem apenas 10% do mercado de computadores e 8% das receitas de telefones celulares. Fora isso, a empresa de Jobs tem quase 100 milhões de cartões de crédito de consumidores, que pagam hoje por canções, filmes e aplicativos, nas lojas virtuais da Apple. Ultrapassou, para completar, o Wal-Mart, como líder mundial na distribuição de música — e muita gente boa suspeita que vá entrar na briga dos tablets, como o Kindle e o Sony Reader, nos próximos meses... E se Bill Gates riu do purismo de Steve Jobs, durante décadas, agora, talvez, tenha de engolir sua risada, porque se a Apple aumentar sua distância do Google, em valor de mercado, o gênio do iPod, e do iPhone, deve partir para cima da Microsoft.
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>>> Why Apple Is More Valuable Than Google
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Literatura
>>> Ensaio autobiográfico, de Jorge Luis Borges
Se ainda há escritores novos que dizem que "não leem nada", deveriam, mais uma vez, se envergonhar e ler Borges. Se os seus contos parecem escritos por um deus, que não pode ter sido concebido entre nós (humanos), sua autobiografia, relançada pela Companhia das Letras, indica que o milagre aconteceu... dentro de uma biblioteca. Borges era o funcionário obscuro de uma biblioteca desimportante em Buenos Aires, mas leu, leu, leu — como ninguém mais. E, quando foi escrever, andou sobre as águas... Descobrimos isso porque, aos 70 anos, ele decidiu compor esse "ensaio autobiográfico", que foi, em seguida, publicado na revista New Yorker. Além de ter lido como os escritores contemporâneos nem sequer sonharam, Borges escreve sobre si mesmo com uma honestidade sem par — principalmente numa época de celebridades, onde aparecer é mais importante do que ser. Borges teve a sorte de não conhecer a vulgaridade da televisão; porque ficou cego antes... Tinha horror à política ("Subiu ao poder um presidente cujo nome não quero lembrar"); e um senso de dignidade igualmente extinto ("Para que apresentar-me a um homem que eu não cumprimentaria?"). Borges fala, naturalmente, de suas leituras. De sua preferência pelo conto, em lugar do romance. Rememora as poucas relações que, para ele, importaram. Com seus familiares; especialmente sua mãe. E com alguns poucos escritores; acima de todos, Adolfo Bioy Casares — que o tornou mais "clássico"... Borges ainda recorda os bastidores da escrita de algumas de suas obras-primas. Aponta os livros preferidos, seus. E explica como seguiu escrevendo depois que a cegueira se instalou. Admite a fatalidade sem drama, com uma altivez, novamente, rara, na época contemporânea... Para quem esqueceu o que é literatura — e acha que está inventando alguma coisa —, Borges não é uma recomendação, é uma obrigação.
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>>> Ensaio autobiográfico
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Cinema
>>> Che, o filme, com Benicio Del Toro
Alguma coisa falhou no Che, de Steven Soderbergh, porque ele não foi o sucesso estrondoso que se anunciava. O primeiro episódio — que, supostamente, não é o da guerrilha — acaba de chegar em DVD, mas a única coisa que vemos nele é... a guerra. Aparentemente, Del Toro, o produtor, e Soderbergh, o diretor, tinham dados demais, com a consultoria de John Lee Anderson, e, no desejo de ser factual, o novo Che abriu mão de toda a licença poética. Portanto, fica difícil conectar o Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta, de Walter Salles, com o guerrilheiro de Che. Se o primeiro é idealista e sonhador, o segundo é realista e pragmático; se o primeiro é humano e compassivo, o segundo é desumano e impiedoso; e se o primeiro é um "santo mítico", o segundo é... um homem político? Não podem existir dois Ernestos "Che" Guevara. Um deles não corresponde à realidade; um deles sustenta a ideologia. Parece que a controvérsia recomeçou... No Che, de agora, descobrimos que Ernesto Guevara gostava mesmo é de guerrilha, se sentia desconfortável fora da selva e não compreendia as vantagens de ser uma celebridade nos EUA (ao contrário de Fidel Castro). Suas declarações, pretensamente humanistas, serviram para deslumbrar intelectuais europeus e jornalistas americanos, mas estavam tão longe do seu dia a dia — matando soldados, explodindo fortificações e executando sumariamente traidores — que sua filosofia estava mais para O Príncipe, de Maquiavel, do que para o Novo Testamento, dos evangelistas. A "luta contra a opressão" e o "desejo de libertar um povo" são bandeiras politicamente corretas, até hoje, mas o autêntico Che Guevara estava mais para um mercenário, que buscava o conflito onde ele estivesse, do que para um pensador, que poderia redimir a humanidade com frases de efeito. Enfim, estamos prontos para aceitar o verdadeiro Che?
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>>> Che
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Julio Daio Borges
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