DIGESTIVOS
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Terça-feira,
19/12/2000
Tevê de massas
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 14 >>>
Um consenso em torno de um certo “voyerismo televisivo” começa a se formar e a prevalecer, entre aqueles que analisam tal mídia e seus desdobramentos. Ou é o seriado comum, que trata de pessoas comuns, inseridas num contexto comuníssimo; ou é o artista (ou a celebridade) que abre as portas de sua privacidade, e de seus segredos mais íntimos; ou é o apresentador (ou a apresentadora) que na sua ignorância, estupidez ou deseducação representa fielmente o telespectador médio (ou abaixo da média). A televisão, no fundo, cria a ilusão mais convincente que se tem hoje da chamada “vida em sociedade”. A mesma que não existe mais em família; a mesma que não existe mais na cidade; a mesma que não existe mais no país. Quem acompanha a novela, o telejornal ou um programa qualquer (de periodicidade fixa), sente-se parte de uma unidade superior, de uma instância acima, de um acontecimento que mobiliza, às vezes, seu grupo; às vezes, sua nação; às vezes, seu planeta. Mais do que ver e ser visto, o ser humano quer diluir-se, quer expandir-se, quer partilhar de um destino comum, não-individual, profético, infinito. Enquanto mantiver esse poder de polarização, de coalizão, de magnetismo, a televisão reinará soberana, e tirânica, sobre as demais mídias.
>>> Folha de S. Paulo
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Julio Daio Borges
Editor
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