DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
22/2/2006
Um Jogador
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 267 >>>
Quando Woody Allen parecia morto e enterrado, em meio às gags e ao humor pastelão dos seus últimos anos, eis que ressurge como diretor em Ponto Final. Será seu canto de cisne? Na realidade, vamos deixar de ser tão maldosos e admitir que o velho Woody encontrou um caminho entre Dostoiévski e Closer. Não Dostoiévski de verdade. O Dostoiévski de Woody Allen. O Dostoiévski de Crimes e Pecados (1989), inspirado no autor russo do século XIX desde o título, e que parece revisitado neste Ponto Final. É mais uma vez a história de uma traição que acaba em assassinato. Adaptada, certamente, para a época atual. Através de bem escolhidos atores da nova geração, com destaque para Scarlett Johansson. Parece que selecionando estreantes cada vez mais jovens (teve até aquele sujeito do American Pie), Woody Allen tira cada vez menos deles, em termos de profundidade. Mas justamente aí entra o aspecto Closer — que Woody Allen já havia explorado em Melinda e Melinda. Os relacionamentos, pós-Closer, não têm mais nenhuma densidade psicológica, são verdadeiras trombadas — as pessoas vão se trombando e se casando (ou simplesmente se acasalando) umas com as outras. No aspecto mesmo da atuação, é uma economia inclusive em matéria de caras & bocas. Claro, se você não ligar para a moral — ou, então, se se acostumar a ela; ou até praticá-la — Ponto Final é, no mínimo, uma bela experiência plástica. Não, não estou falando de silicone, estou falando do colorido, da fotografia, da composição das cenas. Isso Woody Allen, quando quer, sabe fazer. Londres parece mais bonita do que (a sua) Nova York. E a hipocrisia da upper class britânica dá, nos diálogos, um verdadeiro show... Felizmente, Woody Allen voltou a ser imperdível. Mesmo que reloaded; mesmo que apelando para Closer.
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Julio Daio Borges
Editor
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