DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
27/7/2006
O professor de desejo
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 289 >>>
Philip Roth às vezes parece um artista correndo contra o tempo. Contra a morte. Existe algum mal nisso? Não, mas o pudor social em relação à velhice (a "terceira idade") e a incorreção política do humor negro impedem qualquer pessoa de proclamar esse fato. Roth, mais ou menos como Woody Allen, resolve soltar "alguma coisa" todo ano, para encerrar, junto com a vida, o possível estoque de obras-primas. Mas, raramente, alguém comete uma obra-prima na velhice. Ou comete? Roth já admitiu que não tem medo da morte, mas tem pavor de não conseguir escrever mais. Esses temas todos, do fim da vida, mais do fim da vida sexual, das emoções do amor etc., permeiam O animal agonizante, seu mais recente título lançado no Brasil. Conforme escrevemos aqui, não é uma obra "com projeto" — mas com alguma pressa de ser concluída. Pode não haver tempo... Será a última? Não será? Como saber? Enquanto isso, Philip Roth continua escrevendo — e nós, claro, lendo. Como escritores só são reconhecidos depois de mortos, ou à beira da morte, já estão falando que ele é um dos "maiores" (vivos). Ainda mais depois que morreu Saul Bellow. O animal agonizante, vale repetir, não é o melhor de Roth, mas continua indispensável. Até porque é um livro de cento e vinte e poucas páginas. Sem desculpa para não ler, portanto. Repete um pouco a fórmula do velho sedutor, professor, que abomina o casamento, louva a sua liberdade, mas que, mesmo se preservando da decadência a dois, encara a decadência física de frente — num episódio completamente inesperado. Fora isso, valem as meditações sobre os anos 60, a liberdade sexual e o feminismo — nunca contaminadas pelo blablablá sociológico, mas sob a ótica de quem viveu a época e, no fim da vida (sexual também), faz um balanço de prós e contras. Um balanço parcial, mas que vale a pena ler. Roth: enquanto você estiver aí, estamos aqui; depois, não sei.
>>> O animal agonizante - Philip Roth - Companhia das Letras - 128 págs.
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Julio Daio Borges
Editor
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