DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
14/9/2006
Desengomando
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 296 >>>
Quem presta atenção em música brasileira, certamente conhece Henrique Cazes. À frente do cavaquinho, é instrumentista de primeira água: já dividiu o microfone com Raphael Rabello e ampliou o repertório do instrumento como ninguém nas últimas décadas. Como autor de livros, Cazes biografou nada mais nada menos que o choro, em volume que se tornou referência pela Editora 34. Também não deixou de publicar histórias engraçadas sobre a vida de músico (no Brasil, tragicômica). Para completar, Henrique Cazes celebra 20 anos como produtor musical, pela Kuarup, e a gravadora relança agora seus primeiros três discos. São exatamente 30 anos fazendo as honras do instrumento que tem Waldir Azevedo como santo padroeiro, o compositor do inescapável “Brasileirinho”. Cazes homenageia Azevedo logo no seu segundo disco “solo” (de 1990), onde divide faixa com outra referência destes tempos, Paulo Moura (em “Pedacinhos do Céu”). No seu début, Henrique Cazes (1988), passeamos por peças de gente como Pixinguinha e Hermeto Pascoal, fora obras do próprio Cazes: “Estudo nº 1”, “Valsa para Radamés” e “Coisa de Garoto” – para o repertório de um estreante, as referências já anunciavam um futuro promissor. (Se os inúmeros debutantes em disco de hoje conhecessem, assim, os fundadores da música instrumental brasileira, teríamos muito mais qualidade nas estréias – e muito menos CDs...) O terceiro álbum, justamente, dá conta de uma “breve história do choro”: Desde que o Choro é Choro (1995) – um título que parece conversar com “Desde que o samba é samba”, de Caetano Veloso, presente no Tropicália 2 (de 1993). Curiosamente, a rivalidade choro-samba às vezes desponta, como desponta aquela resistência à música instrumental por parte de quem, ainda mais no Brasil, prefere “música com letra”. Para acalmar o ânimo de todos, sambistas e chorões, basta lembrar que a canção que deflagrou a bossa nova (para João Gilberto, era tudo samba), era um autêntico choro: “Chega de Saudade”. É, em resumo, a mensagem de Henrique Cazes desde 1976.
>>> Henrique Cazes | Henrique Cazes tocando Waldir Azevedo | Desde que o Choro é Choro
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Julio Daio Borges
Editor
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