Digestivo nº 304 >>>
Hoje existem, pelo menos, duas maneiras de interpretar o termo “literatura marginal”. A primeira, e mais notória, é a literatura marginal no sentido de periférica, de “excluída”, de relegada a segundo plano. É quase literatura feita por marginais. Desde marginais de verdade até marginais autoproclamados – se dizendo “perseguidos” (mas só se for pelos segundos cadernos dos jornais...). A outra “literatura marginal” seria aquela feita para marginais – mas, como bem colocou Lisandro Gaertner, “pra quê literatura marginal se bandido não sabe ler?”. Se existe uma verdadeira literatura marginal – sobre marginais, mas não feita pelos marginais e nem para os marginais – ela está em Macho Não Ganha Flor, novo livro de contos de Dalton Trevisan (pelo simples fato de que é literatura antes de tudo). Numa das raras orelhas escritas pelo autor – e num dos raríssimos comentários feitos, por ele, sobre sua obra –, fala o Vampiro de Curitiba: “Buscando se livrar da pecha de repetitivo, o contista agregou ao seu conhecido circo de horrores uma nova galeria de monstros morais”. É verdade; e é a única literatura marginal legível, junto com os melhores momentos de Rubem Fonseca. Abstraindo a temática – se ela incomodar –, Dalton Trevisan é estilista da língua; então, para quem escreve, é quase uma obrigação passar por ele. Ano a ano. Destaque para “O Vestido Vermelho” (de um lirismo absoluto), “Três Ovos de Páscoa” (coisa que o Cinema da Retomada tentou mas não conseguiu) e “A Festa É Você” (pau a pau com o clássico Feliz Ano Novo). Em busca da forma perfeita, Dalton Trevisan encontrou o tamanho perfeito: conto e poucas páginas por ano. Como se já não bastasse ser um dos dois maiores contistas vivos, continua escrevendo bem e não toma o tempo do leitor. A soi-disant literatura marginal contemporânea tem ainda muito o que aprender com ele...
>>> Macho Não Ganha Flor
Acabei de ler esse livro de Dalton Trevisan e achei, no mínimo, interessante. Incomoda, aflige, sensibiliza, como a boa literatura deve fazer. Acho que quem não leu deve ler, pelo menos para conhecer textos curtos, mas fortes; cruéis, mas sensíveis, feios, mas belos. É isso.