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Segunda-feira,
26/2/2007
Mucha Mierda
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 318 >>>
Até a Veja anunciou com estardalhaço o conjunto “roqueiro” de tango – por extenso, Orquestra Típica Fernández Fierro (OTFF) –, e o Auditório Ibirapuera esteve abarrotado, para assistir a esses argentinos “do barulho”, e “das antigas”, dividindo o palco com a Orquestra Popular de Câmara (OPC), tão “bem comportada” (em comparação), sob a batuta de Benjamim Taubkin. Tocando para um público que misturava adultos fãs de MPB, e de música instrumental brasileira, com a tribo de universitários (e de eternos adolescentes com mais de 30 anos) – que lotam os shows do Los Hermanos –, a OPC confirmou, em dez anos de atividades desde 1997, porque é efetivamente uma “orquestra” e porque faz algumas das leituras “eruditas” mais interessantes da cultura (e não só da música) popular, nas últimas décadas. Já os argentinos da OTFF trocaram os ternos engomados, os cabelos com gel, o balé rijo (e marcial) e a voz impostada por uma verdadeira anarquia “tanguera”, no melhor sentido do termo. Com um “maestro” que mais parecia Devendra Banhart (de calça jeans, cabelos escorrendo pelos ombros e óculos escuros) – e de comentários monossilábicos e sarcásticos –, desconstruiu, como se isso fosse possível, Piazzolla, entre outros. Sua atitude não era, por exemplo, a viril de quem baila el tango, mas emulava a fúria de quem range os dentes tocando uma guitarra ou de quem desfere golpes cavernosos num kit de bateria. Com um improvisado mestre-de-cerimônias – que trovejava (e, não, cantava) as letras dos tangos –, Walter “Chino” Laborde, a OTFF arrancou gargalhadas e despertou a simpatia imediata da assistência, com suas macacadas, seu gestual de toreador e uma aparência não menos que clownesca. Se não fosse por Benjamim Taubkin, e a OPC, colocando ordem na casa dirigida por Pena Schmidt, teria sido uma noite surreal, no meio de tangos competentemente bem executados, mas com um visual simplesmente revolucionário. A ponte – se ela fizesse ainda algum sentido –, entre a OPC e a OTFF, ficaria a cargo de Arthur de Faria, à la Chacrinha, mais para confundir do que para explicar... No final das contas, eram tantos os nós na cabeça que era, também, um alívio constatar que ainda existem inteligências desagregadoras.
>>> Orquestra Típica Fernández Fierro
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Julio Daio Borges
Editor
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