Digestivo nº 321 >>>
Jornalistas caminham cabisbaixos pelas redações como animais ameaçados de extinção. Enxovalhados por todos, desde seus empregadores até internautas de plantão, desde a opinião pública até a ranhetice dos media watchers, os jornalistas nunca estiveram tão por baixo quanto hoje. Veteranos aconselham calouros a mudar, enquanto é tempo, de profissão; a imprensa-impressa luta contra suas variantes gratuitas (e contra o tsunami de repórteres-cidadãos); grupos de mídia, nesse cenário, ou “travam” ou colocam todas as suas fichas em iniciativas de resultado nulo. A escolha se dá entre salários anualmente achatados, combinados a jornadas sobre-humanas, e desemprego, temperado com um sem-número de bicos que, se somados, não produzem uma remuneração digna desse nome. Em termos de consciência, como zumbis do noticiário, jornalistas vendem, diariamente, sua assinatura, seus escrúpulos e sua reputação. Não respondem, claro, por aquilo que leva seu nome, nem teriam como, tamanha a quantidade de intervenções, sugestões, imposições. A alma do jornalista contemporâneo é a de um bicho de estimação abandonado na rua; de uma biruta, que aponta para onde o vento soprar; ou de um termômetro quebrado, de onde vaza todo o mercúrio e cujos cacos cortam a mão. É neste tempo de desolação que uma atriz, encarando uma jornalista na televisão, tenta devolver um pouco do respeito perdido. E como se até a representação do jornalista estivesse impossibilitada, a própria atriz, antes da encenação ir ao ar, sofre sabotagens constantes. A novela da legitimidade de sua atuação já começou, enquanto que os capítulos da história que ela protagoniza não viram ainda a luz do dia. Não é nem pelo amor dela ao jornalismo: é mais pelo desejo de transmitir um legado artístico a seu filho, que igualmente anseia trabalhar na televisão. O jornalismo como o conhecemos talvez esteja incuravelmente ferido, mas e a atriz... tem salvação?
>>> Sonia Lima fará jornalista em novela da Record
Quanto às questões relativas ao descrédito que vive o jornalismo, tendo a concordar, uma vez que amo a liberdade de imprensa, mas, se entendi bem, essa questão ser tratata em novela, daí o discurso muda, para quê servem as novelas? Deveriam ser banidas da televisão, distorcem os valores familiares, sociais e muitos outros, seria o mesmo que dar seriedade àquilo que não tem seriedade alguma. Sinto tanto por escolherem tratar o jornalismo dentro de novela. Que pena!!!
A adequação do jornalismo no contexto da teledramaturgia é pertinente. Considerando que o brasileiro não é leitor assíduo, quebrar seus paradigmas através de mensagens sublimadas direcionadas ao seu jeitinho displicente de viver é o melhor método. Abraços.
Também percebo que a classe está em baixa. E sinto pena. Acabarão por desclassificá-la como se tem feito com a classe dos professores. Entretanto, cá pra nós: quem é que consegue esquecer o que fizeram os jornalistas da Veja quando assassinaram PC Farias? A Veja fechou questão de que a pobre namorada do homem é quem teria metido nele uma bola para, em seguida, se suicidar. O resultado? O Collor está, de novo, atuando em nossa (infeliz) política...
Então, é alarmante a situação dos profissionais do jornalismo, mesmo. Estamos sendo engolidos pela digitalização dos meios, somos todos uns grandes "quebra galhos" da comunicação, pois enquanto um dia a pauta é sobre flores, no outro são os inseticidas. Não dá pra se ter autoestima profissional dessa forma. Somos motivo de piada, como se fôssemos perfeitamente dispensáveis na sociedade. Mas... não somos. Somos muito importantes, sim, mesmo existindo salafrários que só pensam em aparecer a custo de qualquer coisa, e distorcem fatos para que não prejudiquem "homens de bem" e fiquem, digamos assim, mais interessantes! Somos as vozes dos fatos, precisamos falar, para mexer com as pessoas, para conscientizá-las, alertá-las e, por que não?, educá-las. Tratar deste assunto, através de novelas, não mudará nada na concepção do trabalho jornalístico, apenas bitolará ainda mais a grande massa televisiva. Os jornalistas precisam se especializar, deixar de ser esse grande "sabedor de tudo" (especialista em nada).