Digestivo nº 332 >>>
Depois de ressuscitar em forma de best-seller, OPasquim ressurge, como coletânea, em seu segundo volume, pela editora Desiderata. De acordo com Sérgio Augusto, na introdução do primeiro volume da antologia (de 2006), OPasquim, em formato tablóide, foi o maior fenômeno da imprensa brasileira, então – mesmo que tenha falhado como segunda encarnação, em forma de OPasquim21 – é interessante que, em livro, tenha, repetido (no bom sentido) a História, emplacando na lista dos mais-mais dos anos 2000. O segundo volume – em cor verde abacate, e em todas as vitrines das livrarias do Rio (e, possivelmente, de outras capitais) – abrange do número 150 ao 200, um período cronologicamente mais curto do que o abarcado pela primeira antologia (do nº1 ao 149), mas tão rico em material de qualidade, conforme afirmam seus atuais editores-organizadores (S.A. e Jaguar), que, quando chegaram na “ducentésima” edição, eles mesmos decidiram parar. E, folheando as primeiras páginas desse atual volume verde, o leitor não consegue parar de rir, mais de trinta anos depois, mesmo não conhecendo todas as piadas (muitas explicadas no primeiro volume) e mesmo não tendo todas as referências. Foi, vale repetir, uma das gerações mais brilhantes do jornalismo brasileiro. E OPasquim, além de tirar o paletó e a gravata desse mesmo jornalismo (Jaguar), antecipou muitas das práticas que hoje se consagram na internet e no que restou do próprio (se é que, nessa mídia, a expressão “jornalismo” guarda o mesmo peso e o mesmo sentido). OPasquim era, por exemplo, extremamente colaborativo, era altamente permeável aos leitores, não tinha redação fixa, nem seções muito fixas, e nem mesmo uma padronização de texto. Cada edição era uma tentativa heróica de colocar ordem no caos, embora o caos prevalecesse sempre (como prevaleceu, inclusive, no final). O Anjo Pornográfico dizia que OPasquim parecia “parede de mictório” – cada um ia lá e escrevia o que tinha vontade. Por isso, também, ele foi tão importante. E pelo brilhantismo de seus “muralistas” (ou “pichadores de banheiro” de Nélson) é que prevalece tão atual.
>>> OPasquim
Segundo comentou o proprio Jaguar, ele nem sabia o que era copy-desk e o jornal saia sem a tal padronização da linguagem, ou seja, não possuia em sua redação os tais idiotas da objetividade, que Nelson Rodrigues implacavelmente perseguia. Talvez por isso O Pasquim fosse tão agradavel de ler pois essa era a sua proposta, com uma leitura menos carrancuda. Aqueles tempos sinistros precisavam disso.
Falar aqui das qualidades jornalísticas do Pasquim, do seu papel histórico na imprensa brasileira, etc., seria uma redundância. Por mais piegas que pareça, prefiro defini-lo como um querido irmão mais velho que já morreu, mas que, com sua inteligência, criatividade, senso crítico, bom humor, tolerância e humanidade, para com o meu desconhecimento sobre a realidade obscura que o país vivia naquele momento, me ajudou a compreender e construir a visão de mundo pela qual hoje me conduzo e tento sobreviver, da forma mais saudável e menos neurótica possível, neste momento não menos caótico e esquizofrênico da vida social e política brasileira. Como alguem já dizia (parece que era o Maciel), o Pasquim não era apenas um jornal, era uma questão existencial.
A edição destas Antologias e o seu sucesso editoral nos ajudam a elaborar essa perda. Para quem muitas vezes juntou os trocados para comprar um número do Pasquim, é motivo de grata satisfação.
Para dizer a verdade,nao queria realmente comentar, no entanto deveria trazer ao publico, um J"ACCUSE, que a palavra "Colaborativo" nao e' bem adequada ao se referir a Ziraldo e Companhia. Quando eu criei os desenhos para a abertura de O REBU, ja' com anos e anos na imprensa, meu primeiro desenho sendo publicado no Correio da Manha, quando eu tinha 10, a tropa veio atras de mim como urubus. Eu, por ser uma cartunista, artista, e MULHER, tive a minha carreira abortada no Brasil e, pior, quando fui publicada na Europa, Ziraldo e seu irmao, Zelio, tiveram a ousadia de procurar o editor da GRAPHIS e na Franca e nos Estados Unidos, dizendo a eles que eu nunca existi no Brasil, mais uma serie de calunias que me causaram muito mal.O que fizeram comigo foi um "Character assassination" e, simplesmente,a bortaram a minha carreira. Sao mais de 30 anos, ainda estou viva, muito criativa, mas fui prejudicada seriamente. Marguerita