Digestivo nº 333 >>>
Dos muitos epítetos que Nélson Rodrigues colou no “brasileiro”, essa generalidade ambulante, um dos mais esquecidos e mais exatos é o de “analfabeto plástico”. O brasileiro dá palpites em música como dá em política e futebol, acha que entende de teatro (porque acha que entende de televisão) e, nos anos 2000, deu para escrevinhador e publicador de livros, mas de artes plásticas – portanto, de arte, no seu sentido mais amplo – confessa que não entende patavina. Quando olha para um quadro, uma escultura ou até uma instalação, baba retumbantemente na gravata. Como arte não é “ensinada” nas escolas (“fazer” arte, ser “arteiro”, é outra coisa), uma das maneiras de preencher essa lacuna é se aventurar por qualquer dos volumes, mais especificamente sobre pintura, que a Editora 34 continua soltando (desde 2004), com organização de Jacqueline Lichtenstein. No nono volume, por exemplo, a cinco volumes do final, trava-se a discussão – para o brasileiro médio, talvez, “bizantina” – entre desenho e cor. No nosso País, mesmo entre “artistas” autoproclamados, ninguém nunca soube que o desenho – o traço, o “projeto”, a racionalização – lutou, durante séculos, contra a cor – considerada vívida, violenta, até dionisíaca –, com partidários célebres dos dois lados da questão. Neste volume, que felizmente evita o populismo (e o conseqüente nivelamento por baixo) hoje em voga, assinam os capítulos gente como Goethe, Ingres e Baudelaire – e a sensação, além da do tempo, é de que os séculos estão mesmo falando a nós. Goethe aparece com trechos de seu Tratado das cores que – mesmo sendo poeta (e, não, físico) – soa sublime. Ingres defende o desenho ardentemente, atacando Delacroix, e concordamos com ele (mesmo ele estando errado...). Baudelaire já teve melhores momentos em prosa, mas acerta, como acertou, no atacado, na sua crítica de arte. Para uma época faminta por crítica séria, a coleção, da 34, é um prato cheio. Que contribua para minorar nosso analfabetismo crônico. Plástico, sólido, líquido e gasoso.
>>> A pintura
Julio, é querer demais!
Que bom se os conterrâneos das Américas, principalmente da sulina e da central, lessem e entendessem o que estão lendo, gostassem de ler, de ir a museus e bibliotecas, de assitir filmes com boas mensagens, de contar mais do que dez e conhecer mais do que trinta palavras completas e corretas... Nesses países bonitos, mas muito pobres em corpo, mente e alma, ninguém liga para isso, não! Muitos não gostam de ler porque não lhes ensinaram que ler faz bem; outros porque não podem comprar os livros; outros, ainda, porque aprendem na Universidade da vida...(essa é panaca demais). Muitos porque não lhes oferecem bibliotecas públicas e outros porque são burros mesmo e não entenderiam o que está escrito... Então, para que ler?
Agora, pode crer, a esmagadora maioria não lê nesses nossos países bananeiros, alguns também são petroleiros, porque deixar de ser ignorante seria um grande luxo, demasiado extravagante para eles e para alguns dirigentes...
Creio que esta coleção 34 é excelente, pois venho comprando alguns exemplares e disponho deles para leitura e aprofundamento dos meus conhecimentos. Ano passado utilizei-os muito, enquanto procurava finalizar o tema de minha monografia.
Apesar de muitos brasileiros não darem valor aos pensadores do passado, nós, artistas brasileiros, temos o dever de reler todo este vasto material para poder construir realmente uma arte que viabilize não só uma expressividade estética, mas que demonstre verdadeiramente um diálogo coesivo entre artista-obra e obra-espectador. Uma boa iniciativa da editora, pena que muitas coleções nesta área de Artes em nosso país se esgotem facilmente devido à pouca tiragem de exemplares e ao público ainda ser pequeno, além do que em sua maioria os livros ainda se encontram com um preço elevado (o que não é o caso desta coleção).