Digestivo nº 337 >>>
Veio rapidamente a tradução de um dos livros mais polêmicos dos últimos tempos sobre jornalismo. The Vanishing Newspaper ou — em português, ainda mais provocativo — Os Jornais Podem Desaparecer? é um lançamento da editora Contexto. Embora a obra tenha ficado famosa por anunciar a morte dos jornais em papel, exatamente em 2043, sua intenção é, como diz o subtítulo, "salvar o jornalismo na era da informação". E seu autor não é — ao contrário do que possa parecer — um arrivista das novas mídias, mas, sim, um catedrático, em matéria do jornalismo, na Universidade de Carolina do Norte. Philip Meyer retrocede até os primórdios — relembrando porque uma imprensa saudável é importante para o bom funcionamento da democracia —, explica didaticamente como os jornais ganham dinheiro, passa pelo problema dos anunciantes, pela credibilidade, pela reportagem e até pelo papel fundamental dos editores. Reserva um capítulo inteiro para a "salvação" do jornalismo e outro para o que pode, efetivamente, ser feito. O livro é inteligente o suficiente para não menosprezar a internet — e para não colocar os velhos jornais como vítimas do sistema —, e é sábio, em igual medida, ao demonstrar que a herança do velho jornalismo não vai toda para o ralo, boa parte dela permanece. No Brasil, será um grande teste para revelar quais veículos (e quais profissionais) estão realmente maduros para essa transição. Certamente, os que ignorarem o vaticínio de Meyer — e serão muitos — apenas revelarão sua miopia, e terão grandes chances de perecer, junto com o papel, nos próximos anos (antes até de 2043 — o dono do The New York Times, por exemplo, não dá nem mais cinco anos para os impressos). Afinal, não é mais uma questão de se perguntar se os jornais vão acabar ou não (porque, em papel, eles já estão acabando), mas, sim, uma oportunidade única de reinventar o jornalismo, preservando o que ele tem de melhor e jogando todo fora o resto (hierarquias e burocracias inúteis, inclusive). Philip Meyer percebeu isso a tempo, e seu livro vai sobreviver.
>>> Os Jornais Podem Desaparecer?
O jornailismo impresso pode e vai desaparecer. Isto é uma questão de tempo. E é bom porque nada como um jornalismo interativo, onde podemos opinar se não gostamos e aplaudir de concordamos. Posso estar errada... Mas é bem melhor. Concordam?
A estratégia de integrar o novo com o velho, maximizando a potencialidade da informação, é o grande lance desse livro, ou seja, quem admitir as inovações, será contemplado com a resistência de seu produto no mercado. E acredito, sim, que Meyer está correto quando faz essa afirmação. Boa leitura!
Na semana passada, aqui em Belo Horizonte, saiu de circulação o Diário da Tarde. Após mais de 50 anos de circulação, o jornal sai do ar esmagado pela competição dos jornais rápidos/econômicos (inclusive um deles editado pela empresa proprietária do DT). Esse fato me parece ser simbólico de como os proprietários de jornais estão perdidos diante da chegada do futuro.