Digestivo nº 347 >>>
Todo ano a pergunta vem à tona: os Beatles (e suas canções) podem ser revisitados - de novo? No ano passado, tivemos a tentativa (não tão bem-sucedida) de transformar os Beatles em mashup, por George Martin e seu filho, sob encomenda do Cirque du Soleil, que solta um novo espetáculo, Love, pautado pelas composições do quarteto de Liverpool. Neste ano - pelo menos, neste ano no Brasil - chega até nós Across the Universe, espécie também de musical, mas no cinema - na realidade, um filme, uma ficção, narrando uma história comum dos anos 60, em que todos cantam os Beatles, com participações especialíssimas de Bono Vox, Joe Cocker e Salma Hayek. Across the Universe foi exibido depois da coletiva de imprensa da 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entrou obviamente na programação e - espera-se - alcança o circuito comercial neste ano ou no outro. Respondendo à pergunta anual sobre John, Paul, George & Ringo: sim, Across the Universe produz mais uma nova (e válida) (re)interpretação dos Beatles e de seu songbook. Jude (para quem cantam "Hey Jude", é só esperar) sai de Liverpool, à procura de seu desconhecido pai, chega em Princeton, mas, ao encontrar Max e Lucy ("LSD" é entoada por Bono), parte com eles para Nova York. Dividem um apartamento na Big Apple com a "sexy" Sadie (misturando Janis Joplin e Robert Plant), uma "Prudence" (que "came into the bathroom window") e mais um bando de malucos, entre eles um guitarrista que é Little Richard, Chuck Berry e Jimi Hendrix fundidos. Tendo como pano de fundo a Guerra do Vietnã, a psicodelia e o Village, eles vivem suas aventuras. Na dúvida entre manter os Beatles nos anos 60, ou no século XX, e expandi-los para a Era de Aquário, o século XXI, Across the Universe contribui para a segunda corrente. O público vai dizer se a aposta é válida.
>>> Across the Universe (Trailer)
Há bons momentos, como o alistamento militar do personagem Max, mas há também escolhas grotescas como a psicodelia enlatada durante a canção "Benefit of Mr. Kite" e há momentos simplesmente bobos, como o show no telhado do prédio da gravadora, com a polícia chegando e tudo mais, exatamente como aconteceu na última apresentação em público dos Beatles.
As cores, figurinos e cenários são uma festa para os olhos! Mas o roteiro é previsível e a história anda mais devagar que o necessário para se fazer entender. Sabe aquele filme que você assiste até o final e ainda fica com a sensação de que ele não começou? Depois a gente percebe que o filme é lento simplesmente porque não tinha muita história para contar. No início ele é razoável, equilibra bem a história em si com os números musicais. Mas quando começa a ser necessário destrinchar melhor os acontecimentos, os números musicais são empurrados sem critério, quase uns após os outros.
Sei que irei ficar mal com muitos tietes e até com alguns fanáticos fãs dos Beatles. Não só deles, mas com todos os admiradores e defensores dos mocinhos bobinhos dos perdidos anos da década de 60. Estranho isso? Mas é a pura constatação da realidade! Os mocinhos enraivecidos, os contestadores babacas, daqueles tempos, hoje seriam considerados rapazinhos tontinhos, inocentinhos! É desagradável ver os velhinhos dando uma de roqueiros, dançando como se tivessem mal de São Guido; é deprimente ver esses senhores, alguns caquéticos, querendo, ainda, ser os bons! Isso é saudosismo besta, é tomar o lugar do novo; e o novo deve sempre substituir o velho, isso é lei da Natureza! E se querem saber, tanto os Beatles, quanto os Rollings Stones, nossa, esses são ridículos, e outros grupos daqueles tempos são responsáveis por parte dos desmandos de hoje, da perda de valores. Toda a década foi involutiva! Vejam a música, Lucy in the Sky with Diamonds, LSD, dos pseudos-gênios... Analisem isso.
Como diria o ensaísta Antonio Prata, o I.Boris é de direita, o filme e a época que retrata são de esquerda. Sem muito pensar, a escolha aqui é fácil fácil. Enquanto tu vinhas, fui.
Quanto mais vivas, mais me decepcionam as pessoas. Esse Boris, argh!!! O cara é descartável tanto quanto suas palavras. Imagine, ele daqui a alguns anos... O que fará com sua velhice??? O que é ser novo? Eu, heim...