Digestivo nº 353 >>>
O sucesso de vendas de Deus, um Delírio, de Richard Dawkins, motivou a sua editora, a Companhia das Letras, a lançar a edição comemorativa dos 30 anos de seu primeiro livro, O Gene Egoísta (com o mesmo projeto gráfico, só que em tons de verde). Talvez mais famoso — na época da internet — por ter lançado a teoria dos memes (lá no fim do livro), O Gene Egoísta, hoje, parece uma reação à teoria da "seleção de grupo" e, menos cientificamente, uma negação do coletivismo, uma afirmação do individualismo — ideologicamente falando, uma negação do socialismo e uma afirmação do liberalismo. Dawkins nega, no prefácio de 30 anos, com veemência, mas, para quem não é versado em biologia evolutiva, fica difícil não ler o livro dessa maneira — ou, ao menos, não imaginar que o livro tem sido interpretado assim há três décadas. O Gene Egoísta é mais difícil do que Deus, um Delírio e é provável que não emplaque, no Brasil, como o primeiro. É, naturalmente, menos polêmico do que em 1976, porque, como sabemos, o capitalismo venceu, a sociedade de classes não tem mais o apelo que tinha; a economia de mercado triunfou e a sociologia se perdeu no meio do caminho. Por mais que Dawkins se rebele — a cada nova edição —, seu Gene Egoísta forneceu, biologicamente, as bases teóricas para a sociedade em que vivemos hoje. "Se até a natureza é assim, por que alguns homens insistem em não ser?" Certamente a discussão não se encerrou ainda, mas será que tem a mesma força do velho best-seller científico?
>>> O Gene Egoísta
Tudo tem um propósito, certo? Inda que tenha complicado com a física, química e outros fatores, gostei de Deus, um delírio (alegórico). Prefiro o caráter sagrado que ele alude: paciêcia, solidariedade e generosidade. Armas não usáveis pela maioria. A carruagem que dirijo segue por estes caminhos...
A onipotência divina é tal que, em cada espaço da Terra onde nos encontramos, nos sentimos acompanhados. Teoricamente significa que as nossas práticas do quotidiano têm um conhecimento pleno do Criador. O homem, elouquecido pelas teorias revolucionárias proporcionadas pela tensão do dia-a-dia, abandona o essencial da vida e mete-se em clivagens que, em vez de o elevar, sufocam. Os animais, muitos deles, nos provam que o viver isolado dispersa forças e não ajuda enfrentar grandes desafios. Nessa observação animal, os macacos não ousam viver fora das suas comunidades onde possuem uma estrutura social evidente. Têm um chefe que cuida deles e parece que se educam sempre que o egoísmo se torna algo sem abono. Apesar do triunfo do capitalismo no mundo, o gene natural do coletivismo nas pessoas insiste em atacar mesmo em plena economia livre, reclamando favorecimentos sociais. A família é um exemplo do coletivismo flagrante do homem puro. Assunto a merecer mais reflexão em "Deus, um Delírio"...
O socialismo não se perdeu, ele foi apenas uma das facetas do capitalismo, onde a concentração do poder, onde quer que ela ocorra, seja no campo econômico, seja no campo político, acaba produzindo a total supressão das liberdades humanas e o fim da natureza tal como ela existe ou existiu para os seres humanos. Ou alguém tem alguma dúvida que a maior parte das pessoas - uns 95% - que vivem nas grandes cidades, lutando por empregos que mal conseguem sobreviver, são verdadeiras prisioneiras e escravas desse cárcere chamado liberalismo e economia do mercado? Ou alguém tem alguma dúvida ainda sobre quais são os verdadeiros propósitos dos governos e das empresas e a forma como eles extraem maciçamente do mundo as riquezas sociais e ambientais sem devolver praticamente nada, principalmente para os que mais necessitam? Vale a pena ler sim O Gene Egoísta, para nós entendermos que enquanto nos arrastamos sobre a Terra não temos nada de interessante além da falta total de humildade.
li o livro "gene egoísta", aprendi, gostei e concordei; somos "estratégias" dos genes, nós, os gatos, as mangueiras e os camarões; e concordo com o hugo penteado, o Estado é um tirano, e, os mercados, cárceres sociais;