Digestivo nº 362 >>>
Decididamente, um dos maiores presentes, nesta comemoração de 200 anos da chegada da Família Real Portuguesa, é Debret e o Brasil, o catálogo raisonné, a obra completa do pintor-cronista francês, com organização de Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago, pela editora Capivara. Jean-Baptiste Debret, primo "in law" de Jacques-Louis David ― o grande nome do neoclassicismo napoleônico ―, desembarcou no Rio de Janeiro em 1816, nos embalos da chamada Missão Francesa, e no Brasil permaneceu até 1831, documentando, como ninguém, a transformação da colônia barroca em sede, civilizadamente europeizada, do império português. Debret e o Brasil, num esforço monumental de pesquisa, reúne, pela primeira vez, mais de 1300 imagens, em mais de 700 páginas, sendo 200 obras inéditas (entre elas, seis novas pinturas a óleo recentemente descobertas). Esse trabalho hercúleo de documentação ― que permitiu a Debret ser considerado inclusive "o maior repórter" do País ― resultou na sua já clássica Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), nosso principal cartão de visita na Europa do século XIX, e fonte iconográfica inesgotável, até para a formação do nosso olhar e da nossa identidade como nação. Embora Nélson Rodrigues considerasse o brasileiro médio um "analfabeto plástico", não há, entre nós, quem não tenha consigo, mesmo que no inconsciente, as imagens de Debret ― que agora, com esse catálogo raisonné, permitem, além da viagem no tempo, um mergulho no Brasil profundo, de 200 anos para cá. Com prefácio do historiador José Murilo de Carvalho, o volume ainda refaz todo o percurso das obras nele reunidas, desde sua concepção até seu paradeiro (às vezes incerto), até, muitas vezes, seu feliz retorno ao Brasil. A editora Capivara já nos havia brindado com a bela edição das obras de Debret reunidas pelo colecionador Castro Maya, mas, com este Debret e o Brasil, recoloca tanto o País quanto seu pintor-redentor novamente no circuito internacional das artes.
>>> Debret e o Brasil
Assim como o Barroco chegou tardiamente por nossas terras, esse catálogo também, porque é de extrema importância um trabalho histórico e documental como esse, para que nossa iconografia seja, além de relembrada, retratada com os devidos valores e prestígios que nossa arte tem. Bela indicação, Julio. Esse livro deve ser maravilhoso!
Bjs,
Simone