Digestivo nº 364 >>>
Depois de um longo período de depressão, em que literalmente perdeu a voz, uma cantora brasileira confessou que recuperou o interesse pela vida através da música eletrônica. Para ouvintes de MPB pré-BossaCucaNova, soa esquisito — dada a simplicidade harmônica, a repetição das melodias (isso quando há linha melódica) e o caráter eminentemente percussivo do "estilo" eletrônico. Mas, para a referida intérprete, foi justamente o que chamou a atenção: a batida quase vital, o pulso, a condução, num despojamento quase primitivo de sons. Num mundo onde as informações cotidianamente abundam, o minimalismo da música eletrônica seria, portanto, de grande apelo, para quem quisesse, de repente, reduzir os estímulos, fugindo temporariamente da civilização (nas raves?). Não espanta que a lounge music preencha espaços, sem efetivamente enchê-los, agregando, basicamente, movimento, e aguçando os sentidos pela economia de dados — como que anunciando um grande evento subseqüente: "Silêncio (ou quase), estamos esperando que algo, aqui, aconteça". Na contramão da sociedade saturada de imagens, os beats em uma única dimensão despertariam a fantasia, onde praticamente nada é oferecido, nenhuma história contada, tem de se preencher de sentido o "vazio" (ou não; se for esse outro objetivo: o vazio em si). Como nos livros, onde o que igualmente importa é o que não está dito, na electronic music, as pausas, os fades e os ecos se encaixariam nos pensamentos soltos dos ouvintes — construindo uma experiência particular de audição, perfeitamente legítima. A cantora de música brasileira se recuperou totalmente da depressão. Não é mais a mesma; mas a música eletrônica, para além dos modismos, persiste.
>>> Get your flight...
Quanto mais os silêncios na música, na literatura, na pintura, na vida forem valorizados, tanto maiores serão as descobertas do prazer... O silêncio é sublime. Subliminar...