Digestivo nº 365 >>>
De cabeça baixa, romance de Flávio Izhaki, pela editora Guarda-chuva, é o primeiro saldo dos novos autores que publicaram no início dos anos 2000, no Brasil - e ele é negativo. Bem escrito desde o começo, o livro prende, mas seu realismo deprime e até causa uma certa vertigem. Felipe, o protagonista, era um desses "geninhos" literários da blogosfera brasileira, com um aguardado volume que nunca saía - e que, quando saiu, teve repercussão quase nenhuma. Felipe, que já havia desistido de tudo (até de dar aulas de literatura), entrou em depressão profunda. Rompeu com sua namorada-esposa e isolou-se em Curitiba (era originalmente do Rio). Felipe só sai do seu imobilismo - de anos - quando encontra, num sebo, um exemplar de seu primeiro livro fracassado, todo comentado, com uma letra que ele não reconhece. Quem seria? Sai do auto-exílio, retorna à civilização, para resgatar seu único crítico. E resgatar, junto, sua própria vida. Cabe ao leitor responder se Felipe consegue isso ou não... Quando, no início dos anos 2000, a internet, aparentemente, conferia um novo fôlego à literatura brasileira - após as dúvidas da Geração 90 -, raros autores se consagravam, enquanto a maioria se oferecia apenas ao sacrifício. Conforme afirmou Daniel Galera, o "lado dos leitores" - mais especificamente das pessoas que compram e lêem livros - ainda não aconteceu no Brasil. Não foi desta vez. O Kindle não havia sido inventado em 2000 e pouco, mas, supostamente, o fôlego da leitura frenética on-line não se transferiu para a leitura de livros off-line - e as dezenas de livros de contos, romances e coletâneas de estreantes voltaram para o limbo. Escrevinhadores de 2005 pra cá têm preferido os blogs. Os que insistem no livro físico deveriam ler De cabeça baixa, de Flávio Izhaki.
>>> De cabeça baixa
O título "de cabeça baixa", do romance de Flávio Izhaki, demonstra seu recolhimento forçado, por falta de incentivo à arte. Esse texto retrata seu ressurgimento das cinzas...