Digestivo nº 373 >>>
O que dizer do melhor senão que é, simplesmente, "o melhor"? Talvez para mudar um pouco, podemos dizer que Marcos Sacramento já era "perfeito" quando começou, em 1994, com A Modernidade da Tradição, relançado agora pela Biscoito Fino. Na onda de regravações de Chico Buarque (nem ele agüenta mais), Sacramento desbanca todo mundo com a interpretação provavelmente definitiva de "A Volta do Malandro", que emenda, habilmente, com "Largo da Lapa", de Wilson Batista. Cala, de novo, já na segunda faixa, abrindo com "Pela décima vez" ("Jurei não mais amar..."), de Noel Rosa, impecavelmente emendada com "Fez bobagem", de Assis Valente. "Mulher sem alma", de Nélson Cavaquinho, soa como uma mistura de tragédia e confissão, pungentíssima; "Morena", de Paulo César Pinheiro, anuncia o ritmo exato de Memorável Samba (seu segundo pela BF); "Lábios que beijei", de J. Cascata, vem clássica desde a respiração; "Dos prazeres, das canções", de Péricles Cavalcanti, um "Samba da Benção" avant la lettre, engata, surpreendentemente, com "Genipapo Absoluto" (melhorada), de Caetano Veloso. A Modernidade da Tradição fecha com "Infidelidade", de Ataulfo Alves, num épico triste, e "Apoteose do Samba", para não acabar em fossa, num dos melhores momentos do álbum (e do samba, também). Se não fosse o primeiro registro de Marcos Sacramento, poderíamos afirmar que é mais uma obra-prima dele, quando é, na verdade, a primeira. Há enorme mérito, não podemos esquecer, nas presenças de Maurício Carrilho (ao violão) e Marcos Suzano (na percussão) — mas não podemos esquecer, igualmente, que eles acompanharam outras "promessas" e que nem todas atingiram (ou mantiveram) seu potencial. A Modernidade da Tradição se dispõe a reiteradas (e variadas) audições — num tempo em que quase nada lançado resiste a algumas voltas na vitrola.
>>> A Modernidade da Tradição - Marcos Sacramento
Nada poderia ser mais prazeiroso do que ler a sua acertadíssima crítica a respeito do Cd "Modernidade da Tradição". Marcos Sacramento é realmente um caso à parte no atual cenário da música brasileira. Seu estilo absolutamente sui generis de interpretar nos faz viajar no tempo em que o talento era condição sine qua non. Elegante, sofisticado e ao mesmo tempo manemolente e sensual, ele é um intérprete da melhor estirpe. Parafraseando o nome desta prestigiosa coluna, eu poderia descrevê-lo assim: Marcos Sacramento é culturalmente digestivo como um coquetel de deliciosos sabores!
Sou seu maior fã. Deu prá perceber?
Prof. Julio Cezar do Amaral
Rio de Janeiro
Xi, professor Julio... Tem gente disputando a vaga de fã número 1 do Marcos Sacramento - e eu, com certeza, sou uma dessas pessoas! Fico até meio indignada por esse moço que canta a tradição tão modernamente e com tanta elegância e perfeição não ser um enorme sucesso como o Pagodinho (sem desmerecer este último). Este CD para o qual o Digestivo sabiamente jogou holofotes é realmente um caso à parte na nossa música. Alice Sampaio
Que prazer ler o artigo e os comentarios! Há muitas pessoas na França tambem que são "o maior fã" de Marcos Sacramento. Estou aprendendo o português para compreender as palavras das cançoes de seu extraordinario repertório. Voz, estilo, ele tem tudo... De verdade, Alice, é "um caso à parte".