Digestivo nº 374 >>>
Nelson Ayres (piano), Ulisses Rocha (violão) e Toninho Ferragutti (acordeom) estão entre os maiores instrumentistas brasileiros de suas respectivas gerações — mas eles não formavam um trio até abril do ano passado, quando, por um erro de uma produtora, e por um compromisso agendado de última hora pela mesma, Ayres, Rocha e Ferragutti deram à luz o Trio 202, para se apresentar no Jazz Standard, depois de apenas três noites de ensaios. O resultado, no CD Ao Vivo New York + São Paulo, é impressionante, sabendo-se ou não dessa história saborosa. É música brasileira de qualidade — e é jazz, também, de qualidade — desde a primeira faixa, uma releitura instigante de "Só Danço Samba", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A performance segue animada com "Teu Sorriso" (Rocha), "Helicóptero" (Ferragutti) e "Choro do Adeus" (Ayres). "O Morro não tem vez" desponta, junto com a lembrança de Piazzolla em "Alfonsina y el Mar" (de Ariel Ramirez e Felix Luna), entremeadas por "Sanfonema" (de Ferragutti). O registro fecha no auge com a eterna "Ponteio" (de Edu Lobo) e a bem escolhida "De Bahia ao Ceará" (do justamente revisitado mestre Moacir Santos). A bendita confusão do Trio 202 se estendeu até o Tom Jazz e quem viu, teve sorte — apesar de que todo mundo pode ouvir agora. O lançamento foi da Azul Music e o mínimo de reconhecimento que deveria ter merecido é o de ser considerado um dos melhores álbuns instrumentais do último ano. Entre tantas participações inócuas de instrumentistas, entre tantos revivals sem o menor sentido e entre tantas produções seriadas sem nenhuma importância, o Trio 202 se destaca, até como uma bagunça inspirada de três grandes virtuoses.
>>> Trio 202 ao Vivo: New York + São Paulo