Digestivo nº 397 >>>
Não foi desta vez ainda que o Batman, no cinema, se tornou mais interessante do que o Coringa. Toda a ovação, póstuma, à performance de Heath Ledger, como "The Joker", é merecida. O ator de Brokeback Mountain domina todas as cenas, desde a primeira, de tal forma que o roteiro parece ter sido escrito para ele. Desde a invenção do anti-herói na literatura (e sua consagração no século retrasado), o gênero épico foi deixado meio de lado e os vilões, não só no Brasil, ganharam profundidade psicológica, muitas vezes até maior que a dos mocinhos. O Batman andou melhorando desde Michael Keaton, que ficou marcado pelo terror humorístico de segunda linha, tão em voga nos anos 80, mas que encurtou sua carreira ("séria"). Christian Bale ainda não é o Bruce Wayne que todos os leitores de HQ esperavam, mas a rouquidão lhe caiu bem, igualmente o uniforme — embora seu grande momento seja mesmo à bordo do batmóvel e de sua inovadora versão em duas rodas. Christopher Nolan, que escreveu e dirigiu o longa, tomou o cuidado de introduzir o tema delicado das guerras no Oriente Médio, chamando o Coringa de "terrorista". A grande discussão, portanto, fica sendo a de viver nas fronteiras da lei: ora ultrapassando-a sistematicamente (Coringa); ora violando as regras de vez em quando (Batman); ora indo de um extremo a outro (Duas Caras). Três personagens principais, em vez de dois, trouxe um certo desequilíbrio ao filme, que poderia ter acabado duas vezes antes de acabar mesmo, e complicou a trama. Contudo, é mais um esforço, louvável, de levar o gênero "filme-de-super-herói" mais além. Foi considerado um dos "melhores de 2008" e deve render indubitavelmente o Oscar (póstumo) a Ledger.
>>> Batman: O Cavaleiro das Trevas
Toda a vez que vejo um texto que espera muito de filmes como Batman, eu me pergunto quando é que os adultos vão crescer. Não dá para esperar nada de Batman, porque foi concebido para crianças, enquanto divertimento, passatempo, era só um gibi e não dá para fazer nada melhor com uma proposta que se distorce e quer atingir adultos. OK, há adultos infantilizados, que jamais viram um filme de Carl Dreyer na vida, mas estes que se danem, para usar um português bem chulo -- não é mesmo? Não dá para esperar que chifres nasçam em cavalos. Ao menos esta é o meu modo de ver tudo o que envolve Batman e seu companheiro Robin. Ficou lá atrás, na minha infância. Não espero nada, enquanto adulta, destes filmes; aliás, nem perco meu tempo indo ao cinema vê-los.
Não espere nada do Batman, ele é somente um personagem, um canal das idéias de artistas. Tudo o que restou do comentário de Isa Fonseca é preconceito quanto ao que desconhece e pretensão pela CULTURA que presume deter. Leia Allan Moore, Conheça Bill Sieckwicz e depois diga que HQ é uma expressão infantil e menor.