Digestivo nº 397 >>>
Frédéric Filloux — seguindo a mesma trilha de Henry Blodget anos atrás — publicou, antes mesmo da crise de dezembro dos jornais, um verdadeiro estudo que demonstra, veementemente, por que as atuais redações de jornal são economicamente insustentáveis on-line. O raciocínio é relativamente simples. Cada jornalista de papel empregado (incluindo salário, benefícios, despesas e outros custos fixos) sai por 60 mil anuais (Filloux usa euros, mas acredita que o valor é, proporcionalmente, conversível para qualquer outra moeda forte). Embora grandes redações norte-americanas ultrapassem os mil jornalistas, e redações médias européias fiquem entre 400 e 500, ele trabalha estoicamente com apenas 100 pessoas (incluindo repórteres, editores, artistas gráficos e freelancers), chegando a um custo anual de 6 milhões. Mais 1 milhão de infra-estrutura (veículos on-line não eliminam totalmente esses custos), 2 milhões para marketing e 1 milhão para administração, chega finalmente a 10 milhões por ano. E como a versão, na internet, de um jornal vai arcar com 830 mil mensais? Filloux considera, na outra ponta, que cada visitante-único gera, otimisticamente, entre 10 e 25 centavos de receita para um veículo on-line. Esse jornal eletrônico hipotético, portanto, deveria gerar um tráfego médio de 8,3 milhões de visitantes-únicos mensais. Sendo que os maiores independentes dos EUA hoje — Huffington Post (4 m.), Slate (3 m.), TechCrunch (3 m.) e Drudge Report (3 m.) — não chegam nem à metade disso... Sua conclusão é a de que, fora do papel (que vai acabar), o negócio de produzir notícias — como o de gravar e distribuir música industrialmente — se tornou insustentável economicamente. Assim como as velhas gravadoras, os jornais, e as antigas empresas de mídia, vão ter de procurar outra forma de se sustentar. Se muitos jornalistas, hoje, ainda não querem fazer essas contas, Frédéric Filloux adverte que analistas de mercado já estão fazendo, e vêm punindo velhas marcas de jornal em suas avaliações para a bolsa...
>>> The economics of moving from print to online
O jornal perdeu um pouco o encanto no papel exatamente pelo desenvolvimento tecnológico, que permitiu, hoje, cada um que quiser ter a mesma informação via internet, e, se desejar imprimir, ter uma máquina de offset à sua disposição. Antes as máquinas eram importadas, o trabalhos na redação feitos com o chumbo derretido... Era um trabalho manual. O jornalismo hoje está integrado a uma indústria... O que ficou chato é a ditadura das redações, todos escrevem e dizem as mesmas abobrinhas...
Diagnóstico correto, mas como é que vai ficar? Será que se os jornais locais acabarem, o tráfego restante vai se dirigir para os grandes jornais e ser suficiente para manter o NYTimes?