Digestivo nº 404 >>>
Steve Brill não parece tão preocupado com o fim do papel como suporte, ele fica mais incomodado que sua sogra aceite pagar ainda por informação, mas seus filhos, já, não. Brill, contudo, nota que seus filhos aceitam pagar pela música que ouvem, através do iTunes, da Apple. Steve Brill uniu, portanto, as duas pontas e teve uma ideia óbvia (até porque não foi o primeiro, nem será o último): resgatar o modelo de cobrar — dos leitores — por informação, através de micropagamentos on-line. Não é absolutamente novidade, desde que Walter Isaacson propôs o mesmo na Time de semanas atrás. A diferença é que Brill se deu ao trabalho de fazer as contas. Assim — como alguns já fizeram as contas e já provaram que as grandes empresas de mídia não se sustentarão apenas com propaganda on-line —, Steve Brill tentou provar que os micropagamentos podem ser a salvação num futuro não tão distante. Partindo da audiência de 20 milhões de visitantes-únicos do Times de Nova York e estimando uma receita mensal de 1 dólar por visitante, seriam 240 milhões por ano — em média 70% do que todo o grupo do NYT fatura com propaganda hoje. Brill vai mais longe a afirma que 2 dólares por mês (de cada visitante-único) equivaleriam a meio bilhão de dólares a mais por ano — 50% de toda a receita obtida através de circulação pelo grupo atualmente. E que 3 dólares mensais (de cada visitante) gerariam um novo bilhão por ano — e reverteriam o cenário de iminente bancarrota em que o grupo se encontra. Agora só falta convencer a Apple; e o Google (a continuar indexando, em suas buscas, páginas vazias, só com título e nenhum conteúdo...). Steve Brill fez sua lição de casa e é bem intencionado, mas só ao Times cabe responder se o modelo é viável — a ponto de querer implementá-lo — ou se não serve, apenas, para Brill argumentar, contra os pais de seus alunos, que preferem tirá-los hoje do curso de jornalismo — e vê-los, muito mais realizados (num futuro), como consultores da McKinsey & Co.
>>> Brill's secret plan to save the New York Times and journalism itself
Se por um lado, Julio, Chris Anderson mostra que à medida em que as empresas se tornam cada vez mais digitais, os serviços se tornam software e os produtos, downloads, a tendência é que serviços e produtos tornem-se "grátis". Kevin Kelly nos esclarece que ainda existem características [generativos] que nos motivam a pagar por produtos que até poderíamos obter grátis. Nesta emergente "gift economy", todas as empresas, ao se tornarem digitais, eventualmente, tornarão seus produtos e serviços "grátis". Jornais e editoras incluídos. Em um mundo globalizado, integrado em rede, a grande massa populacional, o grande público consumidor potencial, torna-se um aspecto que não pode ser descartado do modelo de negócios das empresas. Entretanto, esse público consumidor de informação deve ser, necessariamente, letrado [mais profundo o nível da informação, maior o grau de instrução necessário ao seu processamento].
Acho ótima ideia esta, mesmo porque jornalistas e toda a entourage que envolve a produção de notícias - desde fotógrafos, revisores etc. etc., até o motorista que leva o repórter aos quatro cantos das cidades ou países do planeta para cobrir as coisas que rolam - não vivem de brisa. E daí que acho justo, sim, as pessoas pagarem pelas informações como pagam pelo tênis, pelas camisas de marca, pelos jeans, pelo ingresso nos shows e teatro, pelo cinema etc. Aliás, isso ai é colocar o ovo de Colombo em pé novamente, não?
A questão primordial não é se o trabalho do jornalista/escritor deve ou não ser remunerado: ora, é claro que deve ser. O problema é que a informação é [como ensina a microeconomia] um bem não rival, ou seja, seu consumo por alguém em nada prejudica o
consumo simultâneo ou posterior por outra pessoa. Assim, pode ser difícil convencer alguém a pagar por algo que não é exclusivo, entende? De que forma se resolveria esse problema? Ora, agregando-se valor [e personalização] à informação.