Digestivo nº 405 >>>
Paul Starr escreveu, até agora, o melhor epitáfio para os velhos jornais, na New Republic. Talvez porque, de maneira inédita, ganhamos um ensaio de um veterano observador, que não foge aos fatos, que não nega a internet em toda a sua complexidade e que prevê um cenário sombrio "além do bem e do mal". Starr extrapola a extinção, em si, do antigo suporte que conhecíamos como "jornal" e procura entender o que isso significa para a nossa sociedade. O texto lamenta, por exemplo, que algumas cidades dos Estados Unidos corram, atualmente, o risco de perder seu último diário. E se algumas seções do vetusto embrulha-peixe já foram substituídas — até com vantagens — por veículos de nicho, na internet, Paul Starr não acredita que alguma organização, oriunda da WWW, vá assumir a cobertura política de outrora. Não com o mesmo "espírito cívico" — como se um repórter de política, ou de assuntos políticos, se sentisse um legítimo representante da sociedade, fiscalizando, cobrando (e até aperfeiçoando) governos, governantes e governados. Starr remete à invenção da TV a cabo e atribui-lhe a culpa pela programação de "entretenimento" que desviou a atenção das massas dos telejornais. Divorciados das hard news — por pura preguiça mental —, muitos cidadãos se alienariam politicamente, tornando-se lenientes para com a corrupção (este trecho nos soa familiar?). A escassez de cobertura política diária, combinada com uma audiência refratária à realidade em volta, resultaria num retrocesso em termos de civilização. O fim dos jornais, para Paul Starr, não seria um fato isolado, mas desencadearia o fim da era dos jornais...
>>> Goodbye to the Age of Newspapers
Culpar a TV a cabo pela programação? Poderíamos dizer que ela vende o que queremos comprar. Nós é que pioramos, dia após dia. Ou nos transformamos? "Agora que podemos viajar para qualquer lugar, não mais precisamos tomar os poetas e os criadores de mitos por testemunhas seguras sobre fatos questionados." Heráclito. Muita informação e pouca escolha. Estamos - momentaneamente - com a vista nublada, poluída. O nosso velho jornal vem agonizando há tempo. Perdendo leitores. Talvez a questão se resolvesse com entretenimento de boa qualidade que despertasse a curiosidade, não a morbidez. E o jornal, com o privilégio da leitura como meio, pudesse oferecer mais análises e interpretações que fatos. Essa seria uma nova convergência. Será?
Os jornais tradicionais que cumpriram o seu papel de jornalismo e informação durante a era de Gutemberg (seria primo do Undenberg?) estão com seus dias contados. A era digital veio introduzir uma nova maneira de ver e traduzir as notícias. A decodificação dos assuntos globalizados em produtos de consumo instantâneo... Como dizia o velho baiano Gilberto Gil, "...falam tanto de uma nova era... que esquecem do eterno é... só você poder me ouvir agora... já significa que da pé..." (belos versos). Ainda não sabemos bem para onde vamos, mas sabemos que estamos indo... Abraços, Clovis Ribeiro
Creio que sempre haverá quem busque informação de qualidade, mas temo que sejam cada vez mais raros. Além de desigualdades sociais, nosso futuro/presente está repleto de desigualdades intelectuais. Não acho que seja culpa, apenas, dos veículos, mas do cidadão alienado e hedonista que se reproduz a uma velocidade espantosa.
Nenhum jornal busca mais furos, sejamos sinceros... Jornalismo hoje é luta de classes, além de afetações politicamente corretas. As informações não batem com as fontes primárias. A cobertura das eleições americanas foi o triunfo definitivo da mediocridade da grande mídia: de um lado, McCain, fadado ao fracasso, não podendo soltar um pum; do outro, o "messias", Barack Obama, com um passado obscuro que a mídia ocultou até o extremo e que está sendo revelado através da própria internet, através do site Obama Crimes e de documentários, como "Obama Deception". Não é o cidadão "aliendado" que foge dos jornais, é o cidadão cansado de acreditar nas mentiras dos próprios meios de comunicação. Há um forte pressentimento entre o público consumidor de que a mídia oculta determinados dados para justificar interesses de grupos e isto leva a cancelamento de assinaturas, obviamente. Enquanto isso, a minoria "intelectual" decide erroneamente o porquê da crise na imprensa.
Sim, concordo que os meios de comunicação estão inseridos na eterna luta de classes. Desde que as instituições comandam os homens. Pela palavra e, quando não, pela fôrça. Cito um exemplo mais próximo: golpe militar de 64. A primeira atitude após a ação brusca incessante foi a busca pelo monopólio da comunicação escrita e televisada. Fechamento da Rêde Tupi e implantação da Time-Life-Globo, passando por cima da constituição, nossa velha côlcha de retalhos. Em vez de mais balas, mais verbo. E "assim caminha a humanidade".