Digestivo nº 406 >>>
No final do ano passado, Malcolm Gladwell chacoalhou o mundo das ideias com a sua teoria das 10 mil horas. Estudando figuras geniais e homens extremamente bem-sucedidos como Bill Gates, os Beatles e até Wolfgang Amadeus Mozart, Gladwell identificou um padrão que se repetia em cada uma das histórias. Bill Gates antes de comercializar seu primeiro software tinha tido 10 mil horas de prática em programação de computadores. Já os Beatles, antes de "acontecer", tinham praticado 10 mil horas em palcos como os de Hamburgo. E Mozart, claro, tinha 10 mil horas de composições — antes de produzir suas maiores obras-primas. No cálculo de Gladwell, essas 10 mil horas são, com muita frequência, distribuídas em 10 anos, o que equivale a mais ou menos 20 horas de prática por semana ou 3 horas de prática por dia (quase todos os dias da semana). Sua grande conclusão é que talento, só, não basta — é preciso trabalho duro para ser um "fora de série" (título da edição brasileira do livro). Felizmente, foi possível ler, antes, sobre a teoria das 10 mil horas no site do Guardian, onde Malcolm Gladwell publicou um excerto. Infelizmente, contudo, esse texto tirou muito da surpresa de Outliers — que tem, ainda, outros grandes insights, mas cuja principal novidade é, justamente, a teoria das 10 mil horas... Gladwell, também, ao contrário do que ficou aparentemente sugerido, não tem uma teoria acabada sobre o gênio nem sobre homens extremamente bem-sucedidos, mas está preocupado em estudar as condições que permitem o surgimento de "foras de série". Outliers é uma porta aberta nessa direção. Oxalá seja, editorialmente, bem-sucedido, para que Gladwell continue sua investigação...
>>> Outliers
Será que essa teoria aparentemente revolucionária já não foi estabelecida pelo senso comum? Me parece que essa ideia já está expressa num provérbio curto: "A prática leva à perfeição".
E Mozart não pode ser limitado por esse teorema: o moleque escrevia notação musical - e criava peças difíceis de executar - com apenas 5 anos de idade. No caso dele, o buraco é muito mais em cima.