Digestivo nº 407 >>>
Não faz muito tempo, achávamos que o individualismo, e a solidão, nas grandes metrópoles iriam nos matar. Medos Privados em Lugares Públicos, de 2006, é dessa época, mas os temores que revela são tão recentes que, apesar de ter chegado em DVD, continua ainda em cartaz. Cruzando personagens, e mantendo uma distância regulamentar (não-catártica), Resnais conta a história de solitários em Paris que se agarram no amor, como sua última esperança, e fracassam. É interessante acrescentar que o filme se baseia numa peça de Alan Ayckbourn, com o mesmo título, mas que originalmente se passa numa província da Inglaterra. A tragédia para os europeus — Medos Privados parece nos contar — é que o Estado de bem-estar social trouxe emprego, casa, comida e até alguma diversão para (quase) todos, mas privou suas vidas de sentido — de forma que ficam o tempo inteiro manejando blocos como "trabalho", "vida familiar" e "relações amorosas", mecanicamente, sem entender seu significado ou encontrar qualquer realização maior. A igualdade — ou a tentativa dela — coloca limites para todos, que recebem sua "cota" de felicidade, mas que não podem inventar nada, sob o risco de sacrificar a estrutura social. Os personagens de Medos Privados não foram contemplados com a "sorte" de se encaixar no modelo mais amplo da sociedade, então sofrem e são rejeitados, cada vez mais. A força do longa está no fato de que ele reverberou — provando que a situação retratada pode não ser "de exceção"... No embalo da crise financeira, do questionamento do modelo norte-americano, dos problemas do Japão, a Europa deve rever tudo o que andou consolidando nos 1900s — o que, por mais delicado que seja neste momento, pode trazer novo alento aos solitários representados em Medos Privados.
>>> Medos Privados em Lugares Públicos
Caríssimo Julio, seria interessante publicar um artigo que contemple os melhores livros e filmes (MEDOS PRIVADOS...) sobre a solidão, esta Senhora tão assustadora. Num universo de mais de 6 bilhões de almas, é difícil encontrar alguém que ache que a solidão não é uma inimiga a se combater, e sim uma poderosa aliada para amenizar existencias tão sofridas, e fragmentárias...