Digestivo nº 409 >>>
Poe, reza o clichê, inventou o gênero terror e as histórias de detetive. E Poe impressionou Baudelaire e, no Brasil, foi traduzido por ninguém menos que Machado de Assis. Mas Poe é muito mais que isso. Poe, em matéria de terror, inventou as múmias que ressuscitam (muito antes do cinema inventar-se a si próprio); os pets que são mortos e revivem (acabando com a graça de todo e qualquer Stephen King); e os loucos que tomam conta do hospício, bem como o "defunto autor" (contemporâneos ou antecessores do nosso Machado?). As histórias de detetive Poe inventou sem querer e, se fosse vivo, teria se arrependido da proliferação do gênero numa subliteratura que ele nunca praticou. Poe impressionou Baudelaire porque viveu como o mesmo - como um poeta -, com direito a doses de loucura no final e deixando sérias dúvidas sobre sua causa mortis. (A última história de terror de Poe?) Embora o entretenimento tenha se apossado de suas criações, o que nos faz pensar que ele possa ter alguma coisa a ver com isso, Poe era um literato e como tal escreveu, felizmente. A prova viva está nesta nova edição, pocket, de Histórias Extraordinárias, selecionadas, traduzidas e apresentadas por José Paulo Paes. Saber da vida de Poe não é fácil como não é, igualmente, fácil lê-lo hoje. Incrível como simples histórias do século XIX podem arrepiar os cabelos de alguém no século XXI - quando o audiovisual banalizou qualquer susto -, mas podem... Poe está à espreita! E nunca morre.
>>> Histórias Extraordinárias
Depois que li o Poe deixei muitos autores detetivescos para trás. Eu o conheci através de um amigo que me emprestou uma antologia, numa edição antiga, letras miúdas, folhas sedosas - como as folhas das Bíblias - capa dura e negra com letras douradas. Era um livro bem antigo, mas não lembro a editora ou o tradutor - lembro apenas que li tudo, e nesta antologia tinha inclusive poesias, e de uma delas tirei um nome para um perfil de Second Life, a Anna Lee, uma personagem suicída... A minha história preferida desta antologia é "O Gato Preto", e a segunda, "Coração Denunciador". Tempos depois comprei "Histórias Extraordinárias" para presentear um amigo e acabei ficando com o livro para mim, para reler, com prazer algumas histórias. Depois dele, o Machado mostrou-me mais.