Digestivo nº 410 >>>
É como se um sussurro se convertesse em um urro, ao longo dos anos, sentenciou Tom Curley, presidente da Associated Press, sobre a grita recente dos jornais, contra o oferecimento de notícias gratuitas na internet (que os está matando lentamente). O raciocínio é simples — e até os jornais brasileiros já entenderam: se você disponibiliza notícias gratuitamente na Web, você as "comoditiza"; se elas estão disponíveis para todo mundo, como é que você vai querer cobrar por elas? Em um ensaio para a última edição do American Journalism Review, Paul Farhi, repórter do Washington Post, sugere que grande parcela da culpa, pelo atual estado de coisas, é da Associated Press (AP) — que, em 1998, assinou, pela primeira vez, com um portal aberto, o jovem Yahoo. Até então, o material da AP só estava disponível em serviços "fechados", que cobravam por acesso, como AOL, Compuserve e Prodigy. A AP, em sua defesa, diz hoje que, se não abrisse seu conteúdo para o Yahoo, a Reuters iria acabar fazendo isso (como já estava ameaçando, aliás). O fato é que, uma vez publicado na chamada "internet aberta", esse conteúdo caía, fatalmente, na mãos dos web spiders, do Google (por exemplo), e — voilà — uma infinidade de sites (e blogs etc.) poderia dispor dele livremente. A maior ironia, dessa história toda, é que a Associated Press é mantida, ainda, por muitos jornais, que estão fechando (alimentando-se, inclusive, de material produzido por eles) — e, portanto, tende a desaparecer, seguindo a lógica da crise da imprensa-impressa... Depois de anos fingindo que nada estava acontecendo, os jornalistas começaram uma caça às bruxas. No Brasil, será que vai sobrar, também, para as agências de notícias?
>>> A Costly Mistake?
O que importa se o conteúdo das agências é cobrado ou não? A maior parte da imprensa brasileira vive de releases e do "gillette press". E se a vida dos jornais não está fácil, o que dizer dos jornalistas? A saída para a mídia impressa, na minha modesta opinião, é deixar as pautas "commodities" para a mídia eletrônica e investir na produção de matérias diversificadas, com bons profissionais de apuração e texto.
Uma onda jornalística quis se desfazer de notícias de opinião e crítica. Acontece que será isso a tábua de salvação dos jornalistas. Porque já não me interessa ler o jornal repetindo notícia que eu vi estampada às 00h30 da noite. Mas me interessa ler o que o Veríssimo tem para contar, a crítica dos colunistas, eventualmente sobre essa notícia já velha... E muitos leitores fazem o mesmo: se interessam por conteúdo crítico e de opinião, mais do que por notícias pasteurizadas (e que, convenhamos, nem sempre informavam adequadamente o que era esperado delas). Acho que a saída é só uma: conteúdo, crítica e opinião.
Faz tempo que a honestidade jornalística esbarra nos compromissos do editor com o patrão e deste com as Agências Internacionais, mesmo porque o jornal é apenas uma filial. Quando as 3 Imprensas foram pensadas, a televisão só seria um auxiliar previsto por Huxley em "Admirável Mundo Novo". A troca do Educador pelo Formador de Opinião só poderia gerar esse estado Anárquico que hoje presenciamos nas sociedades dos países. E a Anarquia, antes de Vandalismo, é Individualismo nos conceitos e regras, derrubando por terra a maioria dos planos das 3 Iscas de Sonhos, plantadas pela Revolução Francesa nas constituições concretas dos Estados, que sustentavam ideais Nacionalistas ou Socialistas com que se manipulavam sociedades por jornais. Surgiu esta Quarta Imprensa, anárquica, e com o agravante de preservar árvores, pois não usa papel. Infelizmente, sobra sempre para o mais fraco. Ganha-se menos, mas continua-se opinando sem qualquer compromisso educacional com o leitor. Viu que coisa boa?