Digestivo nº 416 >>>
Quando alguém do seu lado vier lamuriar sobre não existirem mais gênios na nossa época, você pode citar Steve Jobs. Jobs provocou tantas revoluções quanto Miles Davis e Pablo Picasso. Jobs e Wozniak fundaram a Apple, no final dos anos 70, e começaram a revolução do computador pessoal (antes da IBM). Jobs, fora da Apple, criou o estúdio de animação que revolucionou Hollywood, a Pixar (adquirido recentemente pela Disney). E Jobs, de volta à Apple, lançou o aparelho eletrônico que está prestes a se tornar o mais vendido na história (superando o walkman da Sony), o iPod. Sem contar outras revoluções — menores? —, o Macintosh (o primeiro com interface gráfica e mouse), o iTunes (também chamado redentor das gravadoras) e o iPhone (redentor das telefônicas pós-VoIP). Steve Jobs tem defeitos, claro: é centralizador (o que lança dúvidas sobre o futuro da Apple); é intolerante (só está interessado em inteligências de três dígitos); e é obsessivo (em tempos de "don't worry, be crappy" — quando pouca gente liga para a perfeição). Steve Jobs — dizem — não gosta de se expor (tem acesso direto aos melhores profissionais); não liga para dinheiro (porque sempre teve muito, ou nada); e não liga para bens materiais (é budista, e vegetariano). Mesmo assim, Leander Kahney escreveu um livro inteiro sobre o método de trabalho de Jobs, complementando, óbvio, com sua personalidade e um pouco de sua vida pessoal. E, assim como o iPod e o iPhone são, ao mesmo tempo, best-sellers e uma vitória da tecnologia e do design, A cabeça de Steve Jobs é um livro obrigatório e, ao mesmo tempo, está na lista de "mais vendidos" (sem ser autoajuda ou jabá). E então: você vai continuar ouvindo que não existem mais gênios na nossa época ou vai preferir contra-argumentar, lendo Kahney sobre Jobs?
>>> A cabeça de Steve Jobs (Leia o 1º capítulo)
Gênios sempre existirão, pois a Igualdade é só um sonho, mas as suas aparições são inversamente proporcionais à honestidade das propagandas. Houve um tempo em que se falava muito do Bill Gates, criador do pacote Office, no entanto, o atual Excel não ganhou a excelência vista do Lotus-123, também do Bill, mas do Quattro-Pró, da concorrente Borland, que comprada pelo Bill permitiu o surgimento do Excel. O Gênio não conversa conosco, mas consigo mesmo. Nós é que casualmente estamos na direção das falas, sendo a nossa fofoca a responsável por essa prudência dele. Citar Miles Davis numa terra cheia de trumpetistas valorosos é tão possível quanto citar o Chico e se esquecer do Gil por aqui. Aí é que entra a propaganda maior ou menor, de um ou de outro. O que nos falta é um maior poder de juízo, o que nos torna reféns da propaganda jornalística remunerada, logo, o reconhecimento natural do Gênio é diretamente proporcional ao juízo do povo e inversamente à propaganda dos seus jornais. CQD.
Realmente, ele está acima da média (beeem acima), mas... até hoje ele não conseguiu seduzir com seus produtos o mercado mais exigente do mundo, o japonês. Aliás, ele está se retirando de lá por não conseguir penetração na terra do sol nascente... Sorry, Steve...