Digestivo nº 421 >>>
Parece que cada nova geração precisa de seus próprios vampiros. Nos anos 90, tivemos, em filme, o Lestat, de Anne Rice, encarnado por Tom Cruise. Não era, exatamente, um best-seller da mesma década, como é, agora, com Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Entrevista com o Vampiro, o primeiro da série de Rice, foi traduzido por ninguém menos que Clarice Lispector. A adaptação foi mais aguardada do que esta, recente — talvez porque, nas décadas anteriores, o cinema não precisasse apelar para adaptações, até de games, e HQs, para sobreviver. Ainda em matéria de best-sellers, os vampiros de Meyer se saem melhor do que Harry Potter, mitologia de quinta categoria "para crianças". Ninguém que entenda, realmente, do assunto, gostou — a começar por Alan Moore, passando por Harold Bloom. Meyer, por sua vez, escolhe uma heroína blasé, adolescente mal-humorada, envergonhada, outsider. Ou seja, provoca identificação com 99% da plateia, que nunca foi cheerleader, nem "capitão do time". Já seu vampiro... é envergonhado, em igual medida, com medo se ser aceito (por seu amor humano), arrependendo-se dos crimes de sua raça, pedindo que a mocinha se afaste... O que diria Lestat de Edward Cullen? Um vampiro dos tempos da correção política? A gozação, na mídia, ficou por conta da castidade do casal. Um beijo mais ousado pode converter o vampiro em "antropófago"... Um libelo contra a suposta permissividade sexual da "geração internet"? Uma espera de décadas (Edward tem 108), mais meses de amor platônico... para nada acontecer. É uma história de amor mais que uma história de vampiro, no fundo. Afinal, todo adolescente desajeitado quer ser resgatado por alguém que o redima... pelo amor. Você foi aceito. Seu DNA merece sobreviver. Bella Swan vai entregar seu corpo, e sua alma, a Edward Cullen? Respostas em Lua Nova...
>>> Crepúsculo