Digestivo nº 421 >>>
A vida não está fácil para quem é jornalista no Brasil. Depois de décadas de redações se encolhendo e salários se achatando, a internet veio para tornar o profissional tecnicamente obsoleto e, agora, o STF veio para lavrar a obsolescência da profissão em cartório: para trabalhar como jornalista, não é mais necessário se formar em jornalismo (não é mais necessário ter diploma de jornalista) — o que ensejou a conclusão, entre muitos, de que, para trabalhar com jornalismo, não é mais preciso nem... ser jornalista. Sobrou para os blogueiros, claro. Mas não é a mesma "guerra" da outra semana: não é a velha geração querendo manter o controle dos meios e a nova se rebelando, numa disputa entre o mainstream de antes e o de agora. A grita, neste momento, é mais pela sensação, entre universitários, de que o diploma — antes garantia de uma certa "reserva de mercado" — agora não é mais garantia de nada — porque, para trabalhar com jornalismo, aparentemente qualquer diploma de curso superior vale... O argumento está baseado na falta de experiência de quem não conhece o mercado de trabalho e que, portanto, não sabe que nenhum diploma é garantia de nada — em toda e qualquer profissão. A obsolescência dos jornalistas e dos futuros jornalistas (agora em formação) não é a do diploma — está mais ligada à visão romântica de que ainda existem redações de jornal, como as de cinema, quando a prática se aproxima, cada vez mais, do dia a dia dos... blogs! Se um estudante montasse seu veículo on-line, no começo do curso de jornalismo, em alguns anos sairia melhor preparado, para a futura realidade da profissão, do que teóricos das antigas práticas, diagramando com tesoura e cola, discutindo a censura na ditadura militar, apegando-se a suportes, como o papel, virtualmente condenados... O debate, do diploma, deveria alargar suas fronteiras e abordar as verdadeiras questões — o jornalismo não é mais o que era só porque o STF decretou: o jornalismo não é mais o que era porque, no tempo, parou; e não só no Brasil, no mundo todo...
>>> STF derruba a obrigatoriedade do diploma de jornalista
Sim, sim... Concordo com essa transformação substancial do ofício jornalístico, mas concordo ainda mais em relação às instituições de Ensino, sobretudo por proporcionar um período de experimentações, infelizmente pouco - ou mal - utilizado.
Quando eu cursava jornalismo,um grupo de alunos reuniu-se para reforçar a obrigatoriedade do diploma.Pediam que os estudantes assomassem ao pátio e baseavam seu protesto no fato dos grandes jornais estarem contratando estagiários para fazer o serviço das redações.Pagavam menos e despediam jornalistas antigos.Conhecido meu não foi,argumentando que,se estagiários podiam fazer o que pretendíamos depois de 4 anos de estudos,para que o diploma?Até nos formarmos,fez campanha contra a exigência legal do curso de jornalismo para exercer a profissão.Se o curso não me capacita, não me diferencia,não aceito que uma lei o faça,ele dizia.Ora,não é o jornalista o homem que deve sair pelas ruas a fim de conhecer o problema da comunidade e divulgá-lo?E todo o problema social não vem da estratificação?E reserva de profissão,tem que nome?Alguém o elogiou abertamente:bom seria se todos fossem assim, nada elitistas. Quê?Respondeu ele. Sou o maior dos elitistas. Só não quero diplomar a minha incompetência.
Não creio que minha profissão esteja suplantada. Além disso, depositar o futuro do jornalismo no blog só não é mais clichê que afirmar que o papel é "um dos suportes (...) virtualmente condenados". Cursar a universidade me deu sim experiência e gabarito para exercer o ofício de jornalista. Não vou rasgar meu diploma. Assim como não vou me preocupar com quem pretende ser jornalista sem ter um.
O talento não se diploma, fazer o quê? Se refina, mas não se diploma. O estudo é importante em todos os momentos da vida, em todas as profissões, agora reserva de mercado em jornalismo? Corporativismo jornalístico para (tentar) se defender de uma lei criada na ditadura militar? Ninguém precisa rasgar o diploma. Só que está na hora de acordar, o romantismo acabou, informação não é reserva de mercado. Bem-vindos ao século XXI.
À primeira vista fiquei transtornada por meus amigos que têm se "matado" pra entrar na faculdade e conseguir alcançar o diploma, mas agora, especialmente depois de ter lido esse artigo, vi que a culpada foi a net. Felizmente a net me poupa de sair e pegar o jornal lá fora, ou de não ler com mais atenção a notícia. A net me ajuda a economizar. Paradoxo, pois a lida do jornal traz o conteúdo de uma forma mais bem colocada e analisada. Posso investir 2 horas pra ler o jornal inteiro, mas posso usar essas mesmas 2 horas na net depois de ter "passeado" em vários "lugares". Bem, fico triste por amigos, e constrangida com pessoas que escrevem ou falam e acham "sinceramente" que são jornalistas. O mundo caminha, e tempos atrás ser poetas, trovadores, era maravilhsoo, ter um feudo próspero, ser jornalista... uma profissão. Só resta a dúvida.