Digestivo nº 424 >>>
Quando foi anunciado, antes da crise, o livro de Chris Anderson parecia uma continuação lógica de The Long Tail, seu bem-sucedido predecessor. Mas, ao mesmo tempo, exagerava na possibilidade de, no compasso da evolução da internet, tudo se tornar gratuito, num futuro. E, então, passaríamos de uma "economia de escassez" para uma de "fartura"... Bem, a crise veio e ficou mais claro do que nunca que there's no free lunch e que, portanto, alguém sempre paga a conta. Mas não consta que Chris Anderson tenha reformulado sua teoria — como, por exemplo, Jim Collins reformulou a sua —, correndo o risco de retratar um mundo que acabou, como, na mesma internet, o da época da bolha. Assim sendo, Free não tem passado incólume pelas resenhas em 2009. Quem acompanha o Twitter de Chris Anderson, por exemplo, sabe que ele tem passado da glória à execração pública frequentemente. Sobrou até para o Long Tail, que, depois de consagrado, foi atacado duramente, como nunca antes... E, nas últimas semanas, o maior ataque veio de ninguém menos que Malcolm Gladwell, igualmente guru contemporâneo e autor de best-sellers como Outliers, Blink e The Tipping Point. Repercutiu até mais que a crítica da Economist, porque a de Gladwell foi publicada na New Yorker. E, surpreendentemente, não ficou só nisso: Seth Godin, guru da publicidade e do marketing on-line, veio em defesa de Anderson (e contra Gladwell). Enquanto Mark Cuban, bilionário investidor da internet, resolveu também dar seus pitacos... Mais recentemente ainda, surgiu a notícia de que Anderson teria usado trechos da Wikipedia na obra — sem citação da fonte... Enfim: culpado ou inocente, Free já é um dos livros do ano de 2009. E, talvez percebendo isso, Chris Anderson o disponibilizou, por um mês, de graça, na Web...
>>> Free (full book) by Chris Anderson
Quando Guy Debord lançou na França, em 1967, seu livro "Sociedade do Espetáculo", onde observamos a passagem "É o princípio do fetichismo da mercadoria (...) onde o mundo sensível se encontra substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele, e que ao mesmo tempo se fez reconhecer como o sensível por excelência", ou quando Ivan Illich publicou em 1971 o livro "Sociedade sem Escolas", onde podemos ler "redes de aprendizagem apoiadas em tecnologias avançadas", muitos seguiram o caminho das críticas vorazes: próprias da natureza humana... Assim vale para "n" escritores, pintores, poetas etc. O propalado agora talvez venha a se revelar somente décadas após. Só o tempo confirma uma teoria. Resta-nos esperar e continuar observando...