Digestivo nº 430 >>>
Desde que a Microsoft derrotou a IBM, nas últimas décadas, aprendemos que software é mais negócio do que hardware; que o mundo físico vai se digitalizando; e que a era do conhecimento suplantou a era industrial. Nesse cenário, mesmo com a Microsoft não sendo mais a mesma (nem a IBM), fazia todo o sentido que o Google assumisse a liderança nos anos 2000 — afinal, nascera na internet, seu negócio não tinha ligação com hardware e, teoricamente, poderia crescer além das fronteiras conhecidas. De repente, contudo, um sujeito chamado Steve Jobs sai do esquecimento da indústria de computadores, reassume a empresa que fundou, revoluciona o consumo de música, e a telefonia, e... acaba por ultrapassar o Google — com hardware —, na bolsa de valores. Quer dizer então que os CDs podem voltar, os jornais podem não acabar e os livros de papel não estão ameaçados? Talvez; se você for Steve Jobs... A Business Week foi quem, mais habilmente, explicou por que o Google não é mais aquele e por que a Apple tem mais futuro (mesmo "além de Jobs"). O Google já tem 70% do mercado de buscas — seu core business —, a tendência, portanto, é manter ou diminuir suas receitas (se não conseguir descobrir outros negócios tão lucrativos quanto o original). Já a Apple tem apenas 10% do mercado de computadores e 8% das receitas de telefones celulares. Fora isso, a empresa de Jobs tem quase 100 milhões de cartões de crédito de consumidores, que pagam hoje por canções, filmes e aplicativos, nas lojas virtuais da Apple. Ultrapassou, para completar, o Wal-Mart, como líder mundial na distribuição de música — e muita gente boa suspeita que vá entrar na briga dos tablets, como o Kindle e o Sony Reader, nos próximos meses... E se Bill Gates riu do purismo de Steve Jobs, durante décadas, agora, talvez, tenha de engolir sua risada, porque se a Apple aumentar sua distância do Google, em valor de mercado, o gênio do iPod, e do iPhone, deve partir para cima da Microsoft.
>>> Why Apple Is More Valuable Than Google
Inovação ("buzzword" da vez) não está apenas nos produtos que recebem alguma simpatia dos consumidores finais e alcançam sucesso de vendas. Um exemplo: em 2007 (são os números mais recentes que tenho), pelo décimo quinto ano seguido, a IBM recebeu mais patentes nos EUA do que qualquer outra companhia no mundo. Segue firme, em seus quase 100 anos de história (mais de 90 no Brasil), remodelada, apostando em serviços, free software e redes sociais. Sob esse aspecto, não existe derrota alguma. A Microsoft, empresa símbolo da segunda metade do século XX, busca reinventar-se, mas naquela mesma década de 90 ajudou financeiramente a Apple, que recuperou-se. Entretanto, "a maçã" continua apostando em produtos de arquitetura fechada (o que já lhe custou caro uma vez). Google aposta no modelo "cloud", independentemente de plataforma e, a Apple, nos dispositivos de acesso. Deveria se diversificar.