Digestivo nº 431 >>>
O poeta escocês Don Paterson conta que um amigo acaba de aderir à "internet banda larga", mas que seu aspecto anda péssimo. Encontrou-o, outro dia, com o rosto pálido e os olhos injetados. Seu amigo não dorme mais, passa dias e noites fazendo downloads. Quer recuperar todos os discos que um dia teve, perdeu, desejou ou que, remotamente, chamaram sua atenção. Ele, na verdade, nem tem paciência para ouvi-los, anda obcecado por uma tal de "progress bar". É como se todos seus aniversários tivessem chegado ao mesmo tempo — e é talvez por isso, insinua Don Paterson, que seu amigo está com um aspecto quase moribundo... Quem nos traz essa história é John Freeman (na lembrança de Tiago Dória), a propósito do lançamento de seu livro A Tirania do E-mail (ainda sem tradução no Brasil). Freeman usa o e-mail como exemplo, mas sua reclamação é contra a "velocidade", a pressão por "produtividade" e o desejo de "crescimento" infinito em nossos dias. Talvez na contramão do onipresente Free, de Chris Anderson, Freeman (que ironia) nos alerta que, embora as opções sejam cada vez em maior quantidade, nossa vida é finita, nosso tempo é limitado e, portanto, temos de fazer escolhas. Não podemos ter tudo, nem mesmo com toda a tecnologia — e principalmente, como já disse Schopenhauer, não podemos querer tudo o que queremos. Segundo Freeman, abdicamos da nossa vida pessoal, ignoramos os sinais do nosso próprio corpo e nos afastamos da nossa realidade mais profunda em nome de um frenesi tecnológico, que aparentemente proporciona mais oportunidades e mais recompensas — mas a que preço? O e-mail — ou o que ele representa para Freeman — está nos escravizando, fomos afastados das pessoas com quem deveríamos conviver e não temos mais paz de espírito. Conectados, "on-line", plugados... chamem do que quiserem, John Freeman, também editor da revista Granta, conclui que estamos vendendo nossas almas para estar eternamente disponíveis. Valeria a pena?
>>> A Manifesto for Slow Communication
Ora, ora... isso tudo e apenas um choro melodramatico de quem nao tem disciplina. Quem nao tem disciplina no mundo da informatica, tambem nao tem disciplina no mundo sem a informatica. Essa historia de querer culpar a informatica pela falta de disciplina ja' e' coisa velha, e nao tem o menor sentido. Quem se deixa escravizar por canais eletronicos hoje tambem se deixaria escravizar por outros canais no mundo sem a eletronica. Quem sabe gerenciar seu proprio tempo era vencedor no mundo antes da informatica, e continuara sendo vencedor no mundo com a informatica. E tudo uma questao de autodisciplina! Obrigado pela oportunidade de comentar. Claudio Spiguel.
Todo poeta é sensível e gosta de ser um comunicador. E também quer alguns minutos de silêncio diário para ler e escrever. No entanto, não são apenas os poetas que estão reclamando da velocidade da nova tecnologia de e-mails. Os mortais estão em pânico e alguns até ignoram... O que podemos fazer para sermos modernos e usarmos a internet todos os dias? A receita: quando compramos um aparelho "último tipo", seja TV ou DVD etc., não usamos todos os recursos... e ficamos em paz. Assim podemos viver com a banda larga e conciliar os horários. Deus fez uma semana com 7 dias e no último ordenou o descanso. Para que tanta sede? "A vida é ligeira como a escuma que se esvai", disse Álvares de Azevedo no texto "O Velho".