Digestivo nº 435 >>>
Caramelo, na prateleira da locadora, parece mais um "filme de mulher", despistando a audiência masculina desde a capa. Mas Caramelo - além de ter uma das diretoras (e atrizes) mais bonitas do cinema atual, Nadine Labaki - é um retrato delicado da vida em Beirute, no Líbano (sempre acossado por guerras). Talvez a suavidade resida, justamente, na realização de Labaki, que parece dar - à fotografia, às atrizes e às situações - a mesma atenção minuciosa que sua personagem, Layale, dedica ao quarto do amante (quando o espera para comemorar seu aniversário). Uma evocação, talvez distante, seja Amor à Flor da Pele (2000), aquele longa de Hong Kong - em que uma bela protagonista, de coloridos vestidos, movia elegantemente seus quadris ao som de... Nat King Cole. E onde o pecado ficava apenas sugerido, com a maior discrição... A história de Layale, e seu homem casado, entretanto, não é a única. Rima - que trabalha no mesmo salão em que Layale faz depilação (com caramelo) - é uma cabeleireira que, pela sua vestimenta, lembra a nossa Cássia Eller... e, claro, sente atração por mulheres. Sua maior transgressão, no entanto, é convencer sua cliente mais fiel, e bonita, a cortar seus cabelos de propaganda de xampu... Já Rose - a costureira da vizinhança - passa a vida inteira cuidado da irmã louca e, agora, sente o amor bater à sua porta; mas, tão desajeitada, pela falta de prática, quer vivê-lo e não sabe bem como... Nisrine - que vai se embelezando à medida que o longa se desenvolve - está noiva, mas não é mais virgem - e não tem coragem de enfrentar a família conservadora do futuro esposo... Para terminar, Jamale é uma neurótica que parece ter saído de um filme de Almodóvar. Lutando - como tantas hoje - para não envelhecer e ter de assumir a idade, revela-se, na maior parte do tempo, uma palhaça - ao tentar lutar contra a marcha inexorável... dos anos. Nadine Labaki foi muito feliz em nos mostrar que mulheres têm o direito de ser... mulheres - mesmo em meio à guerra mais sangrenta. Talvez ensine, também, às destrambelhadas de Sex and the City o que é, simplesmente, ser mulher.
>>> Caramel (Trailer)
Em São José do Rio Preto, antigamente havia um programa radiofônico que se chamava "Sabor do Som". E o locutor, chamado Sorroche Netto, dizia: música sabor morango, sabor cajú... Era uma frutaria total. Agora, vejo um cantora buscando "o sabor da canção"... Vivendo e aprendendo.