Digestivo nº 444 >>>
Para quem ainda acha que a crise foi apenas uma "marolinha" ou para quem, simplesmente, quer entender o que ainda está acontecendo, o melhor guia é o de Charles R. Morris, advogado e ex-banqueiro, que sintetizou O Crash de 2008 em pouco mais de 250 páginas e um subtítulo autoexplicativo: "Dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito". Os capítulos, igualmente, falam por si: "A Morte do Liberalismo", "Wall Street Descobre a Religião", "A Terra das Bolhas", "Uma Parede de Dinheiro", "Um Tsunami de Dólares", "A Grande Desmontagem", "Catando os Cacos" e "Recuperando o Equilíbrio". Morris, obviamente, não acha que a crise é de hoje, nem dos anos 2000. Para ele, o último a fazer a lição de casa, no governo americano, foi Paul Volcker, nos anos 80, durante a presidência de Reagan. Morris, a partir daí, condena a doutrina da chamada Escola de Chicago, que levou o mundo à liberalidade de um Alan Greenspan, e mesmo à falta de pulso firme de um Ben Bernanke e, sobretudo, de um Henry Paulson. Com juros extremamente baixos nos Estados Unidos, o planeta se encheu de dólares — mas que não geraram inflação diretamente; na verdade, se dirigiram para o mercado de ações e para o mercado imobiliário. Como consequência, surgiram "bolhas", como a da internet — pois fazer a oferta pública inicial (IPO) era muito mais lucrativo do que trabalhar; e, como consequência da oferta irracional de crédito, era mais lucrativo hipotecar a própria casa, comprar outra financiada (e hipotecar de novo etc.) do que ganhar dinheiro as usual. A avidez dos emprestadores — e do mercado em repassar esses empréstimos — era tamanha que começaram a emprestar até para quem não tinha como pagar... Voilà, o subprime (que é, na tradução, um empréstimo aquém do prime, aquém do "ótimo". "Ruim" querendo passar por "bom")... A farra não poderia durar para sempre; e, de repente, quem não tinha "nem receita, nem emprego e nem patrimônio" (NINJA) não honrou seus empréstimos; e a economia, a partir dos EUA, desabou como um dominó... A parte pior dessa história é que, ao contrário do que parece agora (aos olhos do mundo), os Estados Unidos da América, segundo Charles R. Morris, não fizeram — ainda — sua lição de casa. Para que tudo volte ao "normal", temos de passar por uma recessão — e o que fizemos, até agora, foi protelá-la. O Crash de 2008 indica que alguém vai pagar essa conta. E estamos, neste momento, apenas postergando o inevitável...
>>> O Crash de 2008 (Leia o primeiro capítulo)
Não li o livro de Charles Morris, mas sobre a nota que o apresenta no Digestivo, digo o seguinte: estou escrevendo de Miami, e dizer que os USA "não estão fazendo a lição-de-casa" é simplesmente impreciso. Acerta o autor em dizer que uma recessão é necessária para atingir um novo ponto de equilíbrio saudável para a economia, e ela está acontecendo! O desemprego é real, vários negócios, principalmente os menores, fecharam suas portas, e o crédito está bastante limitado. O que acontece é que o Americano está fazendo essa lição-de-casa com o otimismo, a resolução, e a resiliência que lhe sao típicos, e isso dá a impressão para quem olha de fora que a tal "lição-de-casa" não está sendo feita. Engano do autor... Levará alguns anos, mas um novo ponto de equilíbrio saudável da economia americana já está a caminho! Obrigado pela oportunidade de comentar. Claudio Spiguel.