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Sexta-feira,
18/12/2009
Calcanhotto, Lancellotti, Veloso e Antunes no Auditório Ibirapuera
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 445 >>>
A aproximação de Adriana Calcanhotto com o "+2", de Moreno, Domenico e Kassin, que rendeu um bom disco inicial e um segundo mais titubeante, continua gerando frutos. O mais recente foi a apresentação de Adriana com Domenico e Moreno, mas sem Kassin, e a participação ocasional de Arnaldo Antunes. Se no primeiro encontro em estúdio, o álbum Cantada (2002), o "+2" surgia mais como uma banda de apoio, introduzindo alguns elementos de música eletrônica e renovando o som de Adriana, em Maré (2008), a parceria resistiu mas não foi tão brilhante — a ponto de Calcanhotto encurtar a sobrevida do disco, emendando, rapidamente, um novo projeto, a continuação do bem-sucedido Partimpim. No Auditório Ibirapuera neste início de dezembro, porém, as colaborações entre os músicos pareciam ter atingido um novo estágio: onde Moreno e Domenico deixavam de ser uma simples banda de apoio, para interferir, de maneira mais autoral, dividindo, em pé de igualdade, o palco com a estrela. A ponto de o novo conjunto se autodenominar "Três" — e não mais "Adriana Calcanhotto" ou até "+2". Embora rico em possibilidades, o novo ensemble parece ainda estar forjando sua identidade, porque misturou desde referências ao excessivo violoncelo de Jaques Morelenbaum até autorreferências inevitáveis, a "Adriana Calcanhotto solo" e aos registros fonográficos do "+2", até, perigosamente, Caetano Veloso. Surge, neste momento, um impasse: a cantora que alcançou o mainstream nos anos 90 se encontra com os vanguardistas da música brasileira dos anos 2000, mas como definir a nova trajetória? Porque o público do "+2" faz careta quando é apresentado aos "sucessos" de Adriana; já o público da antiga Calcanhotto nem sempre entende o minimalismo, a experimentação e o despojamento do "+2". Arnaldo Antunes — que permanece um estranho no reino da música brasileira (ainda que haja tentativas de inseri-lo sempre) —, fez intervenções entre desafinadas, desengonçadas e mal ensaiadas mesmo. Pareceu, inclusive, contaminado pela falta de rumo de sua antiga banda (e de sua geração). Enfim, o "Três" pode "matar" a velha Adriana Calcanhotto e o interessante "+2", mas pode, igualmente, trazer uma "novidade" de que a música brasileira está, com urgência, precisando.
>>> Adriana Calcanhotto, Domenico Lancellotti, Moreno Veloso e Arnaldo Antunes
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Julio Daio Borges
Editor
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