Digestivo nº 457 >>>
Todo mundo tem problema com o excesso de informação. Então, todo mundo deveria ler o especial sobre "gerenciamento da informação", na Economist, com a capa "The data deluge". Sabendo que o volume de informações no mundo é multiplicado por dez a cada cinco anos, a revista cita a Cisco, para quem haverá 667 exabytes circulando pela internet em 2013. O que são "exabytes"? Depois dos megabytes ("mega"="grande", em grego), dos gigabytes ("gigante"), dos terabytes ("monstruoso") e dos petabytes, vêm os exabytes (=1 bilhão de gigabytes). Carl Pabo, um biólogo que estuda o processo cognitivo, acredita que há, sim, risco de "cognitive overload" (ou "sobrecarga cognitiva"). Para que se tenha uma ideia da explosão de dados recente, o Wal-Mart processa mais de 1 milhão de transações de consumidores por hora e o Facebook, a rede social de 400 milhões de pessoas, hospeda 40 bilhões de fotos. São 4,6 bilhões de celulares no mundo e entre 1 e 2 bilhões de pessoas usando a internet. A Economist considera que o crescimento da classe "média" no planeta — 1 bilhão a mais, de 1990 a 2005 — expande o número de pessoas educadas e, portanto, o volume de informação. "É uma coisa muito triste que, hoje em dia, haja tão pouca informação útil", declarou Oscar Wilde em 1894. Apesar do caos informacional aparente, muitas empresas acreditam que dados bem aproveitados possam gerar valor e, para marcas como o Google, eles valem ouro. (Na Netflix, a maior locadora de vídeos da internet, dois terços dos pedidos vêm de indicações dos próprios internautas.) Hal Varian, economista-chefe do gigante das buscas, conclui, na mesma Economist, que embora as informações estejam cada vez mais disponíveis, a habilidade de retirar "sabedoria" do "conhecimento" (como queria T.S. Eliot) continua escassa. E Craig Mundie, estrategista da Microsoft, declara que "a economia centrada em dados está apenas começando"... A revista ainda levanta questões de privacidade — embora muito jovem ache que isso é preocupação de "velho"; e embora as redes sociais se alimentem desse tipo de informação... "O que a informação consome é bastante óbvio: a informação consome a atenção do receptor", cunhou Herbert Simon, em 1971. (Quem está no Twitter, sabe muito bem...) A Economist, por fim, acredita que a especialização crescente do conhecimento está tirando a nossa capacidade de enxergar o todo (como indivíduos). Para resolver o problema do excesso de informação é melhor encará-lo de frente? Ou fazer meditação? ;-)
>>> The data deluge | Data, data everywhere
Julio, apesar da minha idade - 49 anos - até hoje não consigo entender por que os intelectuais de gabinete deste país são obcecados por autores nacionais que acabam por pautar toda a sua obra em temas que deveriam ser tratados apenas por seus psicanalistas de plantão e, ainda por cima, - milagre dos milagres! - os transformam em estrelas literárias como as de um "BBB" da vida. Em contraponto, o "zé povinho" está sempre com seu livrinho de autoajuda ou uma bíblia debaixo do braço. Acha, então, que exista em nosso país alguma diferença cultural entre ambos os grupos? Ou, na realidade, o brasileiro está infeliz consigo mesmo e isso justificaria o "horror literário" que temos visto nestes últimos 20 anos a entupir as livrarias e que são exaltados como "obras-primas" pela crítica nacional? Quando começaremos a publicar obras que tenham algo sólido a dizer e que, ao contrário dos modismos intelectuais e populares, se eternizem realmente? Acha que com o que é publicado atualmente no Brasil...
Por ter excedido o espaço disponível, minha última dúvida não foi publicada. Então, vou repetí-la: Acha que, com esta literatura atual, teríamos chance de, agum dia, sermos agraciados com um Nobel?
As informações precisam ser selecionadas. O que não serve, temos que descartar. Se serve temos que aproveitar a informação e estabelecer o que desejamos da mesma.
"A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo" - Adorno e Horkheimer. Com relação ao comentário abaixo: Miguel, ainda é preciso estabelecer o que você chama de crítica literária no Brasil e não esquecer que o Prêmio Nobel é eminentemente branco é europeu, portanto, não nos cabe sonhar com ele.
Meu caro Daio, em relação ao dilúvio informacional, você não acha que está na hora de aparecer um Ciber Noé, para colocar alguns exabytes, megabytes, terabytes... em sua ciber Arca para depois que esse tal dilúvio passar, ele ter como repovoar a rede com informações úteis? E quem sabe fazer um relançamento na rede de uma ciber tábua dos mandamentos?