Digestivo nº 460 >>>
Mesmo que estejam fazendo bobagem, ninguém pode, hoje, acusar os jornais de não estarem, pelo menos, tentando. Se antes a mídia impressa parecia surda para o barulho produzido pelas mudanças na comunicação via internet, atualmente periódicos seculares se redesenham inteiros a cada década e modelos de negócio, mesmo os mais estapafúrdios, são colocados em prática com frequência. Se alguém lutava para que essa ficha "caísse" (para os jornais), pode considerar-se vitorioso, porque ela caiu definitivamente — e os jornais estão se mexendo, ainda que atabalhoadamente. No tiroteio de veículos que abrem seu site (para não perder audiência), enquanto outros apostam todas suas fichas no iPad (o New York Times, por exemplo), Rupert Murdoch, o outrora temível barão da imprensa, foi esculhambado, recentemente, por Jeff Jarvis, no Guardian. Jarvis, um ex-empregado de Murdoch, que ascendeu na blogosfera com o livro O que o Google faria?, acha que — além de ser amigo do mago Coelho — pode se dar ao desfrute de enterrar a velha imprensa, atacando diretamente seu maior ícone, como se ele fosse um animal ferido para sempre. A razão da grita é a decisão, de Murdoch, de fechar os sites de seus jornais, começando pelo Wall Street Journal, exigindo, dos leitores, pagamento, mesmo que seja para ler na tela. Jarvis ataca o fato de Murdoch não ser, pessoalmente, ligado em tecnologia (segundo seu biógrafo), tendo aderido ao e-mail só ultimamente e não podendo, talvez, tomar decisões no âmbito da internet. Professor de empreendedorismo para jornalistas, Jarvis promete treinar seus discípulos para combater, na internet, o monopólio da velha mídia até o fim dos tempos. E é espantoso que o Guardian tenha patrocinado essa diatribe; e, ainda, que a falta de respeito pelos vultos da imprensa tenha atingido patamares como esse. Chega a dar pena de Murdoch, mas não pelas razões de Jarvis (ao contrário do que ele desejava). A velha mídia cometeu muitos erros na internet, mas está pagando por eles. Tripudiar em cima — como Jeff Jarvis está fazendo — talvez não combine, justamente, com o espírito da internet.
>>> Rupert Murdoch's pathetic paywall
Murdoch é um grande dinossauro (assim como seus primos Civitas, Frias, Marinhos, Mesquitas...). Como todo grande dinossauro, impressiona pela aparência poderosa, mas sua extinção é parte incontornável da História do mundo.