Digestivo nº 462 >>>
Depois de uma experiência traduzindo autores escandinavos como Ibsen e Kierkegaard, fora uma série de livros sobre literatura nos anos 2000, Karl Erik Schøllhammer, professor associado do departamento de Letras na PUC-Rio, resolveu encarar o tema espinhoso da "ficção brasileira contemporânea". Espinhoso porque muitos dos autores estão vivos, porque muita gente boa desistiu da crítica de literatura contemporânea e, inclusive, antologistas se arrependeram de reunir escritores, por causa das infinitas explicações, que têm de frequentemente dar, sobre critérios de escolha. Ainda que comece com a típica pergunta acadêmica "Que significa literatura contemporânea?", o volume é um dos mais legíveis sobre a matéria, principalmente quando entra no assunto (a partir do segundo capítulo). Schøllhammer, como pouquíssima gente antes dele, tem a coragem de colocar os pingos nos "is", quando, por exemplo, afirma: "Inicialmente, a 'Geração 90' foi um golpe publicitário muito bem armado". Continuando, sem piedade: "Olhando mais de perto, entretanto, é difícil encontrar semelhanças reais entre os participantes". E no capítulo dedicado ao "mercado": "Apesar da modernização do mercado editorial, sua realidade econômica é crítica. Desde 1998 até muito recentemente, nenhum setor da economia brasileira sofreu tanto quanto o mercado do livro". Para encerrar com: "O governo ainda é o maior comprador, responsável por cerca de 24% das vendas do setor, mas esse número está em queda contínua". Felizmente, Schøllhammer soube reconhecer fenômenos como a Geração 00, de autores como Daniel Galera e de editoras como a gaúcha Livros do Mal. Paciente, analisou mesmos autores que deixaram de sê-lo, como Diogo Mainardi (que, pouca gente se lembra, lançou-se como escritor). Enxergando, para completar, tendências (nem todas dignas de nota) com a do "microconto" e da recorrente "literatura marginal". Enfim, em menos de 200 páginas, Ficção Brasileira Contemporânea (Record, 2010) não é definitivo, mas toca pontos importantes, longe da condescendência da nossa "crítica" e de "eventos" literários os mais diversos. A verdadeira literatura brasileira — ou o que sobrou dela — agradece.
>>> Ficção Brasileira Contemporânea
Acho que esta geração de escritores anda fazendo sua parte. Ainda que, como o próprio Schøllhammer deixa subentendido, autores como Daniel Galera e João Paulo Cuenca carreguem a bandeira publicitária da Literatura contemporânea. Sempre haverá isso.
Acostumamos com isso, e já estamos na segunda década do século XXI.
Julio, concordo com tudo o que você disse, mas achei que o livro parece uma colcha de retalhos no quesito análise. Muitos livros são citados e, alguns, são analisados em profundidade, sem que um critério tenha sido estabelecido. Cheguei até a pensar que o professor recortou e colou análises de seus alunos do jeito que deu. Também achei que faltou desconfiança e sobrou empolgação com as gerações 90 e 00.