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Quarta-feira,
26/1/2011
Julian Assange, o homem por trás do WikiLeaks
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 475 >>>
Desde o 11 de Setembro que alguém não abalava tanto os Estados Unidos da América. Obama não vale, pois o medo venceu a esperança. (Ou o belo discurso não se concretizou.) Basta lembrar que nos Estados Unidos do mesmo Obama estão restringindo o acesso ao WikiLeaks em locais públicos como a Biblioteca do Congresso. E que, nesses mesmos Estados Unidos, um editorial do Washington Times sugeriu que Assange fosse tratado como "terrorista de alta periculosidade". Ato contínuo, a Interpol colocou o responsável pelo WikiLeaks na lista de "pessoas procuradas". E a própria Austrália — sua terra natal — está à sua caça; algo que — no chat do Guardian — levou-o a comentar: se o país obedece cegamente aos Estados Unidos, então "nada mais significa ser cidadão australiano"... Assange é descrito, na Wikipedia, como "internet activist". "Whistleblower" — denunciante, informante ou delator — é a palavra da moda. Nasceu na Austrália, em 1971. Seus pais foram praticamente saltimbancos. Até que se separaram e sua mãe se juntou a um músico. Dessa união, nasceu uma criança, pela qual ambos disputaram, e Assange se viu foragido pela primeira vez, por iniciativa da própria mãe. Tornou-se um hacker aos 16, assinava "Mendax" e se dizia parte de um grupo intitulado "International Subversives". Num dos manifestos da época, Assange concluía que o importante era "compartilhar informação". Era 1987 (antes da Web). Em 1992, Assange foi preso, acusado de 24 crimes de "hackerismo". Nessa altura, já vivia com sua namorada, já tivera um filho com ela, mas, no processo, se separara e perdera a guarda da criança. Com sua mãe, Assange fundou a Suburbia Public Access Network (depois do desgaste de tentar recuperar seu filho, em vão). A mãe de Assange diz que ele nunca se recuperou de uma crise de stress pós-traumático e todas fontes afirmam que, ao perder a guarda de seu filho, seus cabelos ficaram irreversivelmente brancos. Assange tentou estudar Física, em Melborne, justificando que apenas as abstrações dessa ciência poderiam aplacar sua fome intelectual de hacker. Não adiantou: em 2006, Assange lançou a iniciativa do WikiLeaks. E, quando não está no famoso bunker, sua vida tem sido "entre aeroportos". O WikiLeaks não tem empregados, não tem mesas, nem cadeiras, nem escritório. Quando embarcam num projeto — como o vídeo Collateral Muder —, o pequeno staff de voluntários do site trabalha sem parar. Assange sobrevive com poucas horas de sono e aguenta "uma boa dose de caos ao seu redor". Num perfil da New Yorker, conta que já ficou dois meses em Paris sem sair de casa (outras pessoas saíam para trazer-lhe comida). O WikiLeaks está distribuído em mais de 20 servidores e em mais de 100 domínios ao redor do globo. Assange garante que, para tirar o site do ar, seria preciso tirar a internet inteira do ar. Aparentemente inspirado em Kafka, Koestler e Solzhenitsyn, Assange se assumiu como um outsider. Seu orgulho maior é proclamar — até numa aparição surpresa no TED — que um time de 5 pessoas conseguiu levantar mais informações confidenciais do que toda a mídia mainstream. "Não é preciso mais procurar um jornalista para fazer uma denúncia", concluiu. O WikiLeaks já recebeu algumas centenas de milhares de dólares em doações. E o sonho de Assange é se estabelecer na Suíça, onde encontraria asilo político, criando, lá também, uma fundação WikiLeaks. Por enquanto, tem de responder por uma acusação de estupro (ainda que nada tenha sido provado). E acaba de ser liberado em Londres... A internet vai ter de esperar até que derrube outros governos, e humilhe novamente os jornalistas do mundo todo, com uma equipe de 5 pessoas ;-)
>>> WikiLeaks and Julian Paul Assange
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Julio Daio Borges
Editor
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