DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
30/5/2001
Para ser poeta, é preciso ser mais que poeta
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 34 >>>
Paulo Leminski foi. É o que atesta a recém-lançada biografia de Toninho Vaz, amigo íntimo desse "espírito ambulante da contracultura". Paulo Leminski foi também um abismo de contradições, e seria preciso alguém mais intrincado do que ele para explicá-lo em sua totalidade (coisa que Vaz não se aventura a fazer, prefere simplesmente narrar). Impossível não se intrigar com o menino prodígio que, admitido no Mosteiro de São Bentro, discutiria os clássicos latinos e gregos, a bíblia em hebraico, e que, com 18 anos apenas, fascinaria os Concretistas, dialogando de igual para igual e interpretando autores como Ezra Pound. Choca que tenha sido sugado pelo buraco negro dos loucos anos 60 e 70, que transformariam sua vida num coquetel de álcool, drogas e excessos dos quais ele jamais conseguiria se recuperar. Acontece que Paulo Leminski se misturou, de tal forma, a esse caos destrutivo que não há como separar ele, e sua produção, desse contexto alucinado: "tudo em mim / anda a mil / tudo assim / tudo por um fio / tudo feito / tudo estivesse no cio / tudo pisando macio / tudo psiu". Leminski era um homem de ambições desmesuradas e, na trilha da experimentação linguística de Guimarães Rosa, publicaria o joyceano e controverso "Catatau". Acabou, porém, mais reconhecido por suas intervenções na música popular, na televisão e nos haikais: "isso de querer / ser exatamente aquilo / que a gente é / ainda vai / nos levar além". O volume é ágil, leitura para uma sentada, e Toninho Vaz, malgrado sua subjetividade (nem um pouco isenta), conduz o leitor com a autoridade de testemunha ocular da história - e traz Leminski novamente à baila: "tudo o que passa / tudo o que dura / tudo o que duramente passa / tudo o que passageiramente dura / tudo, tudo, tudo / não passa de caricatura / de você, minha amargura / de ver que viver não tem cura".
>>> "Paulo Leminki: o bandido que sabia latim" - Toninho Vaz - 378 págs. - Ed. Record
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Julio Daio Borges
Editor
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