DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
22/8/2001
Sonhos d'ouro
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 46 >>>
A internet, como miragem, utopia ou sonho, parece que acabou. O que sobrou então? Ninguém sabe ao certo. Ninguém soube nunca. Ninguém nunca saberá (?). Por um lado, sopram os ventos do business, do comércio on-line, do marketing direto. Eles vêem a internet como uma rede de distribuição, como um canal de escoamento, como mais um ponto de vendas. O fato é que os anseios por um espaço livre, desvinculado da realidade, aberto a experimentações é hoje quase um projeto alienígena, alucinatório, no mínimo, fora de moda. Como na televisão, parece que as iniciativas vão se concentrando nos dois extremos: ou a intenção é amplamente capitalista, de acumulação de cifras, estatísticas e e-mails; ou, na via oposta, cultiva-se um ideal informativo, educacional, às vezes, de formação. Tanto uma visão quanto outra é por demais simplificadora, reducionista (como os intelequituais costumam dizer). Sendo a internet um meio tão (aparentemente) cheio de possibilidades, será possível que só lhe resta uma vocação ou 100% venal ou 100% abstrata (no mundo das idéias)? O jornalismo, por mais cínico e auto-congratulatório, parece se apresentar como alternativa, visando conciliar essas duas esferas (supostamente) inconciliáveis. Trocando em miúdos: é talvez factível produzir lucro e inteligência, ao mesmo tempo, malgrado a tevê e os semanários de celebridades e factóides. O "virtual" não está morto, dado o seu confronto com o "real", está duramente (isso sim) adaptando-se a ele. A internet não é mais alternativa, ou pelo menos, "a alternativa". Num tombo de milhões (ou de bilhões), ela percebeu que, se continuar devaneando, vai cair do cavalo. Mais ainda. Ao mesmo tempo, não pode entregar os pontos e covardemente começar a imitar as demais mídias que estão aí. Sua missão é melhorá-las e, se temer mais uma crise de 1929, vai acabar como a televisão: um presente para se envergonhar, um futuro que ninguém sabe e um passado de grandes possibilidades (desperdiçadas).
>>> The Economist
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Julio Daio Borges
Editor
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