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Segunda-feira,
15/10/2001
Ideologia: o ópio dos intelectuais
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 52 >>>
Roberto Campos morreu. Não devidamente compreendido como gostaria. Seu Lanterna na Popa, por exemplo, alguém leu? Seus artigos na Folha de S. Paulo aos domingos, outro exemplo, alguém lia? Esta é a sina dos intelectuais brasileiros: o silêncio. Independentemente dos seus escritos, Roberto Campos construiu as bases do que se chama hoje de “economia” brasileira. Foi ele quem criou o Banco Central, o verdadeiro árbitro das pressões sobre a moeda e sobre a produção do País. Foi ele quem inventou a correção monetária, hoje vista como um mal, mas que perdurou por décadas. A influência inquestionável de suas idéias se fez sentir de Juscelino Kubitschek a Fernando Henrique Cardoso. Mas não se fez ouvir pelo povo, nem pelas classes ditas médias. Um epitáfio que escreveu para Paulo Francis mostra que, inegavelmente, buscava um maior contato com as massas. Roberto Campos ficou marcado pela participação no governo Castello Branco, uma administração moderada dentro da recente e inesquecível ditadura militar. Ficou também conhecido por ser um defensor hábil (provavelmente o mais hábil) e ferrenho do liberalismo à brasileira. (Leia-se direitismo à brasileira, no vocabulário ancestral das esquerdas.) Por esses dois motivos, recebeu tarja preta e entrou para o index de livros e autores proibidos. Sua morte, ato que redime a todos, talvez lhe permita a compreensão almejada. Não há porque continuar ignorando uma das maiores inteligências brasileiras.
>>> Discurso de Posse na ABL
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Julio Daio Borges
Editor
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