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Quinta-feira,
25/10/2001
O eterno retorno
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 54 >>>
A sala UOL esteve vazia para ver o Nietzsche de Julio Bressane, na Mostra de Cinema BR. Também pudera, foi exibido numa segunda-feira à tarde. Muita expectativa em relação a como o cineasta planejava transpor para a tela os textos do filósofo. Não houve milagre, claro. Os escritos de Nietzsche foram praticamente lidos, quando não declamados, enquanto imagens de seus passeios por Turim eram contrapostas a alguma ópera. Infelizmente, pela brevidade e pela superficialidade da sétima arte, o filme soou como uma coletânea de belas frases, um verdadeiro “best of”. O protagonista, encarnado por Fernando Eiras, esteve um tanto quanto caricato, com um bigode desproporcionalmente enorme, tirando completamente a expressão do rosto do filósofo. Além disso, quis-se enfatizar demasiadamente o gosto de Nietzsche pelas roupas e pelos alfaiates, o que lhe tirou os movimentos - transformando em estátua o escritor que queria ver Deus dançar. De qualquer jeito, o longa é meritório, pois revela o segredo do sucesso de um dos pensadores mais cultuados do século XX. Nietzsche esteve muito mais para comentador do que para filósofo rigoroso. Seus livros não remetem à Tradição; quando não renegam definitivamente a História. Nietzsche, sem querer, elogiou o homúnculo que nasce agora, enfurnado em seu próprio século, considerando-se muito melhor do que tudo o que veio, e do que tudo o que foi. Um sujeitinho prepotente que olha o universo com ar de superioridade, pois crê dominá-lo como nenhum outro homem antes. Nietzsche é o herói de todos nós: um solitário que esnobou o mundo; e que, derrotado em vida, refugiou-se na morte. Ele é o rei da filosofia como “amusement”, como “divertimento”, pois lhe tolheu toda a religiosidade grave. O enlouquecer de Nietzsche, no final da vida, é toda uma alegoria do beco-sem-saída ético e moral, em que o homo sapiens de hoje se encontra. Quem sabe quantos anos e quantas inteligências ainda se consumirão, para que a humanidade retorne a seu curso? Sem vagar por aí como uma alma penada? Como um Nietzsche?
>>> Dias de Nietzsche em Turim
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Julio Daio Borges
Editor
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