DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
19/11/2001
Quando é o suicídio?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 57 >>>
Nelson Motta esteve no Esquina da Palavra, do Itaú Cultural, contando as muitas histórias do seu Noites Tropicais. O livro terminou classificado como “impressionista”, na época em que foi lançado, pois o autor não se privou de expor seus sentimentos em relação aos protagonistas da MPB desde 1950. Também pudera: Nelson Motta atravessou a bossa nova, a jovem guarda, o tropicalismo, a disco, o BRock – e todo o resto até aqui – sempre como ator principal, nunca como coadjuvante. É uma das poucas personalidades brasileiras que pode se gabar de ter estado, ao mesmo tempo, no palco e na platéia, ao longo de décadas. Muito se comentou também dos seus envolvimentos amorosos com mulheres célebres. É a vocação para alcoviteira, que grassa na nossa imprensa. Mas todo esse barulho só porque ele teve nos braços Elis Regina, Marisa Monte e Marília Pêra (para ficar em apenas três exemplos)? O que impressiona, de fato, ao longo das páginas, é o otimismo e a disposição desse musicista em encarar o “novo”, com o mesmo entusiasmo de sempre. Seu testemunho, ainda que nas entrelinhas, é o de que 1964 e 1968 esterilizaram toda a efervescência cultural do País a partir de Juscelino Kubitschek. Os sons, as melodias, e as harmonias mais sofisticados a que conseguimos chegar, em quatro séculos, foram empastelados pelos movimentos artísticos de massa, que explodiram, aliás, no mundo inteiro, como o rock, os gurus e as telenovelas. Quando, em 1985, o Brasil retomou a “democracia”, encontrou essa terra arrasada, que abriu espaço para os oportunistas de caras, bocas e bundas. Nelson Motta confessa, ao vivo e a cores, que não tem esperança para o futuro. Passou os últimos oito anos na Nova York da era Clinton, a de maior prosperidade desde a independência dos Estados Unidos. Crê que os tempos atuais não são de ascensão, e sim de queda. Pensa hoje nas filhas e nos netos. E nós, vamos ficando sem lendas.
>>> Noites Tropicais
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Julio Daio Borges
Editor
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