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Segunda-feira,
18/2/2002
A arte de falar mal
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 69 >>>
Para quem quer entender a arte pós-moderna (ou conceitual), o Mam trouxe a exposição “Além dos Pré-conceitos – Experimentos dos anos 60”. Tendo a curadoria da tcheca Milena Kalinovska, ex-diretora do Institue of Contemporary Art de Boston, o painel, montado a partir dos trabalhos de 21 artistas em 14 países, permite ao expectador compreender todo o ideário que embasava a crise e a posterior ruptura com o modernismo, desde os anos 50 até os 70. Segundo Kalinovska, que promoveu uma palestra quando da abertura, os realizadores (ali elencados) quiseram romper com toda “arte” anterior (por isso talvez sejam acusados, por tantos, de justamente não fazer arte, no sentido original). Para isso, abandonaram as formas convencionais (pintura, escultura, etc.) e seus respectivos materiais, buscando inspiração no dia-a-dia, na vida cotidiana. Daí a presença de objetos, naquela época, estranhos a uma galeria ou museu, como roupas, livros e utensílios. De repente, a comunicação que se estabelecia entre, por exemplo, um quadro e o seu observador não mais se aplicava a aquele contexto – o que obrigou, novamente, os artistas a forjar um novo tipo de contato com o seu público. Assim, estão expostas as caligrafias bisonhas, a escrita ininteligível, as folhas de papel em branco – que anunciavam uma nova era do relacionamento humano (talvez não exatamente refletida nesses artefatos). A ordem era – para usar uma palavra da moda – “interagir”, questionar, redefinir códigos e símbolos considerados “antigos”. Apesar dessa tendência ter se acentuado a cada década, persistindo até hoje – e testando sempre a paciência de quem não tem razão para concordar com tudo – é importante saber como a coisa toda começou. E o Mam nos oferece essa oportunidade. (Nem que seja para discordar depois.)
>>> A gênese da contemporaneidade além dos pré-conceitos
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Julio Daio Borges
Editor
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